Há um compromisso que o Brasil não pode mais adiar: investir de forma maciça em obras de infraestrutura para conseguir escoar de maneira menos custosa e sem desperdício a produção agrícola. De nada adianta o empenho e os altos investimentos do produtor brasileiro em novas tecnologias e pesquisas se não existe a contrapartida do poder público. A realidade comprova que a eficiência no campo aliada às excelentes condições naturais esbarram em estradas ruins e transporte caro através de caminhões e portos aniquilados por gestões temerárias e corruptas. Vide o caso do Porto de Paranaguá, alvo de operação conjunta da Polícia Federal, Ministério Público Federal e Receita Federal por conta de denúncias de desvio de cargas, fraude em licitações, contratações irregulares e pedidos de propina.
O mês corrente é, mais uma vez, de preocupação. A colheita da safra recorde de 149,41 milhões de toneladas de grãos enfrentará os já conhecidos desafios logísticos para entregar os frutos da produção. O valor agregado ao produto nacional por essas deficiências o prejudica no mercado internacional, favorecendo os países concorrentes na venda de commodities. Estudo da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato) revela que o transporte dos grãos por hidrovia reduziria os custos em 70%; por ferrovia seriam 35% menores. Porém, o Estado, maior produtor nacional de soja, continuará a escoar 90% da sua safra por via rodoviária. O gargalo deixa o Brasil menos competitivo e impede que a vocação para ser o grande celeiro do mundo seja exercida com plenitude.
Usar estradas para levar o resultado do campo aos terminais portuários fere qualquer planejamento econômico que vise a maior lucratividade da produção. O deslocamento por caminhão em longas distâncias – no caso mais de mil quilômetros, saindo das regiões produtoras do Mato Grosso até os portos de Paranaguá e Santos – é caro e ineficiente. E mesmo que as estradas melhorem, os problemas de escoamento vão continuar, pois isso não representa ganho de eficiência no transporte dos grãos.
A busca por novos modais deve pautar o plano de obras e investimentos em infraestrutura da nova presidente da República, Dilma Rousseff, e de sua equipe. É lamentável que apenas uma pequena parte da produção brasileira seja escoada por hidrovias e ferrovias e o governo ainda insista em investir em recuperação de estradas. Dinheiro que se dissolve junto com as chuvas de verão, que caem que muita intensidade e fazem os buracos surgirem no asfalto com uma rapidez maior que a capacidade de tapá-los. O problema maior para a principal atividade econômica do País é continuar sem alternativas de transporte.
Estudo da Associação Nacional dos Usuários dos Transportes de Carga (Anut) comprova o quanto a produção nacional é afetada pelo limitação estrutural e prova que medidas urgentes têm que ser tomadas para que o agronegócio e outros setores da economia não sejam tão severamente penalizados. Os dados apontam que o transporte faz com que o produtor brasileiro tenha uma desvantagem com seus concorrentes diretos de US$ 74 por tonelada, na comparação com norte-americanos e argentinos – somados frete ao porto (US$ 71) com despesas portuárias (US$ 3). Enquanto na Argentina as distâncias médias favorecem o transporte rodoviário, nos Estados Unidos as grandes distâncias são vencidas com uso intensivo das ferrovias e das hidrovias.
Não é preciso inventar algo mirabolante para vencer as barreiras impostas pela falta e o investimento mal feito. As alternativas de transporte da safra mais eficientes são utilizadas com sucesso mundo afora. Basta vontade política para implementá-las no Brasil. E não pode ficar para depois ou boa parte dos grãos brasileiros seguirão apodrecendo às margens de rodovias esburacadas.