O fracasso do atletismo

“A ambição que me levou a fraquejar. Até abril, eu nunca havia permitido qualquer interferência em meu trabalho. Mas perdi o controle. Minha intenção nunca foi melhorar desempenho. Mas ele (o médico Pedro Balikian) me mostrou, com inúmeros estudos, que a substância poderia ajudá-los no período de recuperação. Fui ingênuo em permitir e quero acreditar que ele não estava mal-intencionado. O atletismo acabou para mim. Não tenho mais condições de enfrentar esse esporte. Não consigo encarar as pessoas. Não dou conta mais”.

As frases acima são do treinador de atletismo Jayme Netto, um dos mais importantes do Brasil. Sua reputação foi jogada no lixo ao confessar que coordenou uma ação de dopagem de cinco atletas brasileiros que iriam disputar o Campeonato Mundial de Atletismo, que começa na próxima semana, na Alemanha – Bruno Lins, Jorge Célio Sena, Josiane Tito, Luciana França e Lucimara Silvestre. Os corredores foram pegos em um exame antidoping preventivo com a substância EPO (que retarda a fadiga muscular), foram suspensos e voltaram ao Brasil. Os treinadores (Netto e Inaldo Sena) admitiram a falha e assumiram toda a responsabilidade.

É lamentável que o esporte brasileiro, menos de uma semana depois da glória de César Cielo no Campeonato Mundial de Natação, esteja envolvido em um dos maiores escândalos de doping nos últimos anos. Justo na semana em que se comemoram os 25 anos da histórica conquista de Joaquim Cruz nos Jogos Olímpicos de Los Angeles. E de uma maneira canhestra, com um médico sendo acusado de “sugerir” uma substância para melhorar a recuperação dos atletas e os treinadores, experientes, simplesmente acatarem e levarem os corredores para um caminho sem volta.

Mesmo com a confissão de Jayme Netto e Inaldo Sena, os cinco atletas pegos no exame antidoping serão punidos. Ficarão bom tempo afastados do atletismo, perderão o único ganho que têm, passarão grande necessidade. E são os bodes expiatórios de uma triste história do submundo do esporte, em que a ambição leva muitos profissionais ao fundo do poço. E carregam junto a reputação esportiva brasileira.

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