O fator Ciro Gomes

A pesquisa encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) ao Ibope agitou a política brasileira. Se reafirmou a imensa popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apontou, principalmente, o expressivo crescimento dos índices de intenção de voto do deputado federal Ciro Gomes (CE), pré-candidato do PSB à presidência da República. De quase descartado pelos agentes políticos, Ciro virou o “queridinho” de boa parte dos aliados do presidente Lula, tornando-se uma opção viável para a eleição de outubro de 2010.

Situação até surpreendente para quem estava virando um coringa para a coalizão liderada pelo PT. Ser coringa é, às vezes, muito interessante. É estar sempre perto de quem comanda e ser sempre uma opção a ser considerada. Ao mesmo tempo, você vira refém da própria polivalência, pois é razoavelmente bom para várias funções – mas não é suficientemente bom para nenhuma.

Ciro estava assim. Poderia ser uma solução de última hora para os ministérios da Saúde, da Fazenda, do Planejamento ou da Integração Nacional. Também, se preciso fosse, poderia ser o líder do governo no Congresso. Ou mesmo um candidato ao Senado pelo Ceará. E até foi cogitado para disputar o governo de São Paulo, sugestão partida do próprio Lula. Só esqueciam dele como candidato à presidência da República.

Agora, tudo mudou. Ciro é um candidato forte, é um potencial contendor do governador José Serra (SP), pré-candidato do PSDB. Empatado com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), o deputado do PSB pode atrair mais apoiadores que a ministra, mesmo não estando no centro do poder. Isto porque o “passado” ajuda, por conta das passagens dele pelo PMDB (quando foi eleito prefeito de Fortaleza) e pelo próprio PSDB (governador do Ceará, ministro da Fazenda e ministro da Saúde, fundamental na eleição de Fernando Henrique Cardoso em 1994). Como exemplo, uma candidatura de Ciro deixa em profundo constrangimento o senador Tasso Jereissati (CE), um dos caciques do tucanato. Tasso lançou Ciro na política, os dois são amigos com laços mais fortes que os eleitorais ou ideológicos, um não disputa nada com o outro, um apoia o outro sempre. Um segundo turno com Ciro x Serra pode fazer toda a esquerda, ora aproximando-se dos tucanos, entrar de cabeça na campanha do ex-ministro de Lula.

Não bastando isso, o PSB passa a ser o fiel da balança. E, por ser menor que PT, PSDB e PMDB, o partido pode se “amoldar’ às necessidades. Como acontece aqui no Paraná, em situação relatada pelo repórter Roger Pereira na edição de quarta de O Estado: “A possibilidade de assumir a prefeitura de Curitiba a partir de abril do ano que vem faz o PSB manter o apoio à candidatura de Beto Richa (PSDB) ao governo do Estado, mesmo com o crescimento do deputado federal Ciro Gomes nas pesquisas para a sucessão presidencial. A candidatura própria do partido ao Planalto não será suficiente para afastar o PSB do palanque tucano, onde estará, também, o principal adversário de Ciro, José Serra. (…) O secretário-geral do PSB nacional, senador pelo Espírito Santo Renato Casagrande, disse que o partido ainda aguardará a construção das candidaturas e alianças, mas que a direção nacional conhece a situação do Paraná e respeitará o compromisso de Ducci com Beto”.

O “fator Ciro Gomes” transforma o PSB em um partido ousado e interessante. Com liberdade para fazer alianças informais em todo o País, não será surpresa se o deputado cearense surgir como a grande surpresa da eleição de 2010. Deixando Dilma Rousseff em maus lençóis e José Serra com tremenda preocupação. E transformando um pleito polarizado em uma disputa imprevisível.