O centenário Coritiba

Ontem, milhares de pessoas aproveitaram o feriado de Nossa Senhora Aparecida no mesmo lugar, o estádio Couto Pereira. Não, não havia jogo do Campeonato Brasileiro marcado para o local. Até houve jogo, mas era festivo. E era o menos importante para quem estava lá. O importante era comemorar, em plena segunda-feira, o aniversário de cem anos do Coritiba Foot-Ball Club, o decano do futebol paranaense. As festas continuam hoje, e a história continua sendo escrita.

Quando fala-se em futebol, às vezes se esquece de importância do esporte no Brasil. Um pensador disse certa vez que o futebol no País não é apenas um jogo, e sim um fenômeno social. Ele tem razão. Não há nenhuma outra manifestação popular que seja tão profunda, desde os mais ricos até os mais pobres. Pode-se dizer, inclusive, que foi o futebol que acelerou o processo de integração racial no Brasil – quando do surgimento do fenômeno Arthur Friedenreich, mulato que se tornou o maior jogador do mundo no início do século passado.

No Coritiba, a história é um pouco parecida. Começou como união aristocrática, principalmente dos descendentes de alemães ligados a Frederico (Fritz) Essenfelder. Os sobrenomes pomposos dos Obladen, Hauer e Dietrich foram aos poucos se unindo com os Silva, Bermudes, Sampaio e Pereira. E assim se formou um clube grande, dos maiores do País, referência do esporte no Paraná.

Claro que um time de futebol não se faz sem títulos. E o Coxa (que, coisas da vida, é um apelido que começou como xingamento dos rivais às coxas brancas dos jogadores de descencência europeia) conquistou vários. Primeiro os estaduais, numa hegemonia que permanece até hoje. Vitórias históricas, como as primeiras, nas décadas de 1910. Algumas inesquecíveis, como a decisão do Paranaense de 1968, quando Paulo Vecchio marcou o gol do título no último lance. Outras recordadas com carinho, como as conquistas dentro do estádio Joaquim Américo, do Atlético – em 2004 e em 2008.

Vieram também triunfos internacionais, alguns deles transformados na Fita Azul, distinção dada a apenas três clubes brasileiros. E, claro, as três conquistas nacionais. Em 1973, o Torneio do Povo, que reuniu apenas os times mais populares do Brasil. Após passar por Flamengo, Internacional, Corinthians e Atlético-MG, o Coxa levou o título em um heroico empate com o Bahia em Salvador -jogo que teve influência da arbitragem, com dois jogadores paranaenses expulsos.

Depois, a grande glória de 1985, quando da conquista inédita do Campeonato Brasileiro. Uma campanha sofrida, uma trajetória de dedicação e de entrega total a um objetivo do presidente Evangelino da Costa Neves e do técnico Ênio Andrade, um dos maiores profissionais da história do futebol brasileiro. Quem viveu aquela noite de 31 de julho e madrugada de 1º de agosto jamais esqueceu as cenas no Rio de Janeiro, onde o Coxa venceu o Bangu nos pênaltis, e em Curitiba, onde a torcida fez uma festa impressionante. Mais tarde, em 2007, foi comemorado o título da segunda divisão – não tanto pelo nível da conquista, mas principalmente pelo fato de fazer o Coritiba voltar à elite do futebol brasileiro.

História de conquistas e de craques. Em cem anos de vida, o Coritiba foi o time de Pizzatto, Pizzatinho, Staco, Ninho, Fedato, Miltinho, Duílio, Ivo, Hamilton, Carazzai, Nico, Nilo, Hidalgo, Leocádio, Célio, Joel Mendes, Lucas, Jairo, Krüger, Zé Roberto, Orlando, Hermes, Oberdã, Bráulio, Tião Abatia, Paquito, Freitas, Eli, Manga, Pedro Rocha, Cláudio, Lela, Aladim, Dida, Rafael, Tóbi, Gomes, Milton, Pachequinho, Alex, Ademir Alcântara, Evair, Liedson, Rafinha, Adriano, Henrique, Keirrison e Marcelinho Paraíba.

E é o time de uma nação apaixonada, que merece os parabéns pelo centenário do Coritiba.