Muitos políticos esquecem suas histórias quando chegam ao poder. Alguns deles, o que é pior, renegam tudo que lutaram em nome da bajulação aos que ocupam os principais cargos. Vê-se isso claramente no Paraná, nestes oito anos de governo Roberto Requião (PMDB). Se o governador, apesar de tudo, mantém seu estilo, alguns de seus aliados abandonaram ideologias, posições e atitudes em nome da proximidade do poder.

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Exemplos claros desta situação: o presidente da Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar), Rafael Greca de Macedo (PMDB), e o vereador Algaci Túlio (PMDB). Ambos foram muito próximos do grupo do ex-governador Jaime Lerner (PSB), do secretário de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente do Distrito Federal Cassio Taniguchi (DEM) e do prefeito de Curitiba Beto Richa (PSDB). Apeados do poder, deixaram tudo para trás e entraram na barca requianista. Agora, agem como verdadeiros defensores da Carta de Puebla, e tentam buscar dividendos políticos como áulicos de Requião.

Quem não fugiu de seu caminho foi o vice-governador Orlando Pessuti (PMDB). Político e grande homem público, ele teve uma trajetória retilínea até chegar ao posto mais alto de sua carreira, que ocupa desde janeiro de 2003. Como Requião deixará o cargo em abril do ano que vem, Pessuti assumirá o governo do Paraná, um prêmio para seu trabalho pela população do Estado.

E, por isso, ele legitimamente se coloca como pré-candidato do PMDB ao governo estadual na eleição de 2010. Tem o apoio da maioria dos deputados estaduais, e contará como handicap com seu período no Palácio das Araucárias. Mesmo assim, ele não conseguiu garantir sua candidatura. Pelo contrário: vê seu partido manter negociações com outras siglas, como PT, PDT e PSDB.

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Pessuti, com razão, está chateado com essa história, como contou o repórter Roger Pereira na edição de domingo de O Estado: “O vice-governador Orlando Pessuti voltou a cobrar dos deputados estaduais do PMDB compromisso com sua pré-candidatura ao governo do Estado, definida no encontro regional do partido e referendada nas convenções municipais. Mesmo tendo passado duas semanas na Europa, o vice afirmou estar informado do que aconteceu no cenário político local, “embora, na política, mesmo quando a gente está presente, não consegue perceber tudo o que acontece’ e classificou como manifestação de interesse pessoal a opinião de alguns deputados do PMDB que defendem aliança ao invés de candidatura própria. (…) Para Pessuti, a divergência de opiniões é natural e ocorre em todos os partidos, mas também têm de ser resolvidas internamente”.

E é exatamente isto que não está acontecendo. Neste mesmo espaço, na semana passada, repercutiu-se a declaração do presidente estadual do PMDB, deputado estadual Waldyr Pugliesi, que admitia a possibilidade de aliança com o PSDB -ou ao lado do prefeito Beto Richa ou ao lado do senador Alvaro Dias. Sem contar que prosseguem as conversações com o PT, que envolvem inclusive o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E, quando conversam com os petistas, os aliados de Roberto Requião sabem que a intenção de Lula é colocar na mesma aba PT, PMDB e o PDT do senador Osmar Dias – com este como candidato a governador. Esta aliança só não foi consumada porque Requião não engole uma coligação com seu desafeto Osmar.

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Em resumo, nenhuma das conversas inclui Orlando Pessuti como candidato ao governo do Paraná. Não seria natural que, em algum momento, o PMDB colocasse o nome do vice-governador como um postulante ao Palácio das Araucárias? Ele tem a grande virtude de nunca ter transigido em suas ideias, e de ser uma pessoa preparada para governar o Estado. Mas não é o preferido do governador Roberto Requião – e, por isso, não será o preferido daqueles que esqueceram suas biografias para aproveitar das benesses do poder.