Números negativos

“O Paraná registrou em setembro, pela primeira vez no ano, déficit na sua balança comercial. De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), divulgados ontem, o Estado ficou com saldo negativo de US$ 165,039 milhões, resultado de US$ 909,2 milhões em exportações, que caíram 17,57% em relação a agosto, e US$ 1,07 bilhão em importações, que avançaram 37,15% sobre o mês anterior. No acumulado do ano, porém, o saldo da balança paranaense ainda é positivo, em US$ 2,16 bilhões. (…) Os produtos mais importados foram os óleos brutos de petróleo, totalizando US$ 921 milhões de janeiro a setembro, e a principal importadora tem sido a Petrobras, com US$ 970,8 milhões. O valor acumulado das importações, este ano, está 39,42% menor que no mesmo período do ano passado”.

O texto do repórter Hélio Miguel foi o destaque da edição de ontem de O Estado. Aponta um dado interessante neste momento de recuperação econômica do Brasil. Afinal, em mês de queda abrupta do preço do dólar (confirmada com as cotações baixas de outubro), de nítida retomada do crescimento e de dados positivos, o Paraná mais importou que exportou – e pela primeira vez no ano. É um número curioso, apesar de ser compreensível.

O detalhe que pode servir para justificar o déficit comercial paranaense em setembro também está na reportagem de O Estado. É o gasto de todo o País com petróleo, sendo o produto mais importado em setembro. Mesmo com o número quase 40% inferior que no ano passado, é um alto valor, que demonstra que ainda precisamos importar para garantir o consumo nacional. Situação que o governo federal espera resolver com as jazidas de petróleo na camada pré-sal na baía de Santos, em São Paulo – mas que não será resolvida imediatamente. Enquanto isso, vamos continuar gastando. E, usando uma frase batida dos tempos de altos índices de desenvolvimento econômico, o petróleo é “o combustível do nosso crescimento”.

No Paraná, a história não é muito diferente. Mas, claro, temos boa parcela de culpa neste déficit de setembro. Não é de hoje que encontramos dificuldades no escoamento de nossa produção. Muitos produtores desistem do Porto de Paranaguá pelo excesso burocrático, pela politização da administração portuária e pelos problemas logísticos – agravados com a falta de investimento e com os problemas na licitação para a compra de uma draga para combate o assoreamento do Canal da Galheta.

Só aí teríamos um problema suficiente para atrapalhar nossas exportações. Que, não à toa, começam a ser escoadas pelos portos de São Francisco, em Santa Catarina, e de Santos, em São Paulo. E as estatísticas acabam favorecendo os estados vizinhos, que só entram na fase final do processo produtivo. E só entram porque somos incapazes de encerrar esta cadeia.

Há quem diga, e não estará de todo errado, que foi apenas um número diferente em todo o ano. Que o déficit de setembro não pode apagar os superávits de janeiro a agosto – como realmente não apaga. Mas nenhum dado econômico é desprezível. Qualquer alteração precisa ser estudada, e caso se descubra onde há “furos”, a correção tem que ser rápida e eficiente.

É isso que se espera dos administradores públicos do Paraná. É deles a competência para gerir o Estado, e de permitir que a iniciativa privada e as empresas públicas tenham condições de operar em igualdade de condições com outros estados em toda a cadeia produtiva. O governo precisa sempre ter em mente que os produtores são “sócios” do poder público, pois neles se baseia a nossa economia. E a vitória deles é a nossa vitória, seja qual for o encaminhamento de nossa política. O Paraná não é apenas de alguns privilegiados. É de todos os cidadãos. E de todos os que lutam para movimentar a nossa economia.