No reino das maravilhas

De um lado, a informação oficial: “O sistema prisional do Paraná sofre com a falta de pelo menos 21 mil vagas para novos presos. Com base em dados do mês de junho obtidos junto ao Departamento Penitenciário Nacional (Depen), o Paraná está com 23 mil presos no sistema penitenciário e déficit de 8,7 mil no sistema prisional, mais 13,1 mil presos em delegacias de polícia, que deveriam ser transferidos para o sistema”.

De outro, o reino das maravilhas: “Diferente da informação fornecida pelo Depen nacional, o Departamento Penitenciário do Paraná (Depen-PR) diz que não há déficit de vagas no Estado e que hoje há 14.244 presos em 24 unidades penitenciárias, nas quais há 14,5 mil vagas. No entanto, o número que o governo federal possui é repassado pelos próprios estados, praticamente todos os meses”.

São dois trechos das matérias da repórter Luciana Cristo, destaque da edição de domingo de O Estado. É inacreditável, apesar de esperada, a reação do governo estadual. Nenhum dado negativo que é trazido por fontes isentas é aceito pelo governador Roberto Requião e pelos seus auxiliares, mais ou menos diretos. Pelo contrário, todos são prontamente rejeitados, às vezes com adjetivações das mais bizarras. Se os dados sobre o sistema prisional tivessem sido compilados pela imprensa, seriam considerados “canalhas”, na peculiar visão do governador.

Mas não. São dados do governo federal, fornecidos pelos governos estaduais. Dados preocupantes, porque apontam para a superlotação dos nossos presídios. E quando informações deste tipo chegam para a autoridade pública, é necessária análise rápida e ação mais rápida ainda. É preciso um trabalho conjunto entre Executivo e Judiciário para que a situação melhore a curto prazo – a médio prazo, importante é o investimento na construção de novos presídios.

Mas isso em outros estados. Aqui no Paraná, informar que há escassez em vagas no sistema prisional é virar alvo da fúria oficial, corre-se o risco de virar um “canalha”. Aqui, há um “reino das maravilhas” que não aceita críticas. Nem verdades.

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