Desde que foi reeleito com votação consagradora, quase 80% dos votos válidos, ainda no primeiro turno, o prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB), sabia que seu destino talvez impedisse que ele terminasse o mandato. Teria que dar, rapidamente, os saltos mais altos que já imaginara dar na carreira. Poderia ser um nome forte como candidato à vice-presidência da República, quem sabe emplacaria como ministro em um governo tucano. Mas, principalmente, teria seu nome instantaneamente lembrado como candidato ao governo do Paraná na próxima eleição, em 2010.

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Por dois anos, Beto Richa desconversou. Primeiro, ele se manifestava claramente contrário às especulações, dizendo que tinha trabalho a fazer em Curitiba (o que é verdade). Mais tarde, admitia que seu nome fosse cogitado, mas não falava no assunto e afirmava que o PSDB tinha bons nomes e, além disso, havia uma aliança com outros partidos que poderia indicar outros candidatos. Nos últimos meses, já nem reclamava quando era citado como o candidato natural dos tucanos ao governo.

Quarta-feira, enfim, o prefeito emitiu a declaração tão esperada. O repórter Roger Pereira, na edição de ontem de O Estado, contou esta história: “Beto Richa admitiu que deverá mesmo ser adversário do senador Osmar Dias (PDT) nas eleições para o governo do Estado, no ano que vem. Beto disse que trabalhará até o fim para manter a aliança com o PDT, mas que, com o surgimento de duas candidaturas fortes, ficou difícil a composição. (…) Sobre sua disposição em disputar o governo, Beto disse sentir-se “maduro, experiente e preparado o suficiente para tamanha responsabilidade’ e afirmou que, apesar do desejo de um dia ser governador, só colocou o nome à disposição do partido após apelos dos companheiros que viram um grande espaço para uma nova candidatura, com ideias mais arejadas, visão mais moderna, que represente a renovação política do nosso Estado”.

Era uma situação realmente inevitável. Não havia como não colocar Beto Richa como um dos potenciais candidatos – a rigor, o candidato potencial, ao lado do senador Osmar Dias, que perdeu o pleito de 2006 por cerca de dez mil votos para o atual governador Roberto Requião (PMDB). A administração bem-sucedida em Curitiba deu a visibilidade necessária para que o prefeito virasse uma estrela nacional do PSDB. Ele é convidado para palestras no interior do Estado e em outras capitais do País, e tem seu trabalho reconhecido por diversas organizações internacionais.

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Assim, Beto fica muito perto de ser ungido como candidato tucano. Ele tem dois empecilhos a resolver. Primeiro, é o desejo – natural – do senador Alvaro Dias em se candidatar. Ex-governador do Paraná e nome nacional do PSDB, ele também quer entrar na campanha. Mas a tendência, pelo que se observa da reação das bases tucanas, é que o prefeito seja o nome preferido.

O outro é o real interesse de todas as partes da grande aliança que apoiou Beto em 2008 e Osmar em 2006 – PSDB, PDT, DEM, PPS, PSB e PP, além de partidos menores – em manter essa coligação. Esta é uma situação delicada, pois exige dos pré-candidatos a capacidade de abrir mão de uma situação estável para outro desafio: a Osmar, uma tentativa de reeleição no Senado; a Alvaro, a permanência na Câmara Alta; a Beto, a continuidade no Palácio 29 de Março. Nenhum dos três, pelo que se vê, pretende renunciar à sua vontade.

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Daí a percepção de Richa externada na matéria de Roger Pereira. Chegou a hora de ele decidir, mesmo que para isso ele se distancie de pessoas que caminharam com ele por longo tempo. É o momento de decisão, em que não se pode perder tempo. E há muita gente aguardando a arrancada do prefeito.