Os números liberados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o desempenho do setor industrial nos primeiros seis meses do ano, mostram um quadro ainda marcado por débil recuperação. Os únicos estados que apresentaram desempenho promissor foram Minas Gerais, Bahia e Rio Grande do Sul, que produziram mais em junho que em dezembro do ano passado. O crescimento médio da produção industrial brasileira no período foi de 7,9%, mas as três unidades federativas suplantaram essa média.

continua após a publicidade

No lado oposto coube aos estados do Amazonas, Paraná e Ceará, em junho, um desempenho inferior ao registrado em dezembro de 2008, caracterizando um cenário de retração na indústria. Considerando o agravamento da crise mundial iniciada em setembro passado, o estado de Goiás se destacou isoladamente pela alta da produção em 5,6%, enquanto a média nacional sofreu um recuo de 13,6%. Segundo o departamento de Análise e Estatística Derivada do IBGE, a razão essencial para o bom desempenho goiano foi a concentração de indústrias farmacêuticas direcionadas para a agropecuária, aliada ao excelente resultado obtido em junho.

Comparando o nível da produção industrial alcançado em junho com o de dezembro, Minas Gerais ostentou o crescimento surpreendente de 18,87%, embora a queda estadual seja de 16,4% como reflexo da crise. O economista André Macedo, do IBGE, observou que o desempenho recente do setor industrial mineiro está ligado à recuperação da indústria extrativa, que entre maio e junho deu um grande salto e ajudou o estado a avançar 3,3% na produção geral. Ao longo do ano Minas foi a única região a não apresentar queda em nenhum dos meses decorridos, em comparação com o mesmo período do ano passado. Também os setores da produção de automóveis, petroquímica e siderurgia contribuíram para a expansão do primeiro semestre.

A segunda maior alta verificou-se na Bahia, onde se anotou o maior crescimento no acumulado de 2009, com a expressiva marca de 7,2% em junho no cotejo com maio, quando já havia crescido 7,8% em comparação com o mês de abril. A indústria baiana cresceu, portanto, notáveis 15,6% no último bimestre. O confronto desses dados com os apurados em junho do ano passado mostrou que a indústria cresceu 2,4% e conseguiu interromper uma série de oito resultados negativos.

continua após a publicidade

Contudo, foi o estado mais desenvolvido do País, São Paulo, que em junho se responsabilizou pelo toque negativo da pesquisa do IBGE, com queda de quase 2% sobre maio, resultado que fez o estado acumular alta de apenas 5,1% em relação a dezembro, ficando abaixo dos 7,9% da média nacional. Para o mesmo André Macedo, São Paulo arcou com desempenho sofrível em junho por não ter expressão na indústria extrativa, resultando a queda dos fracos índices de produção da indústria alimentícia e de equipamentos de transporte, onde está inserida a fabricação de aeronaves. No caso paulista deve-se lamentar o encerramento de cinco meses de crescimento, quando o setor industrial somou a alta de 7,4%, embora em percentual insuficiente para minorar a perda total de 18,5% do último trimestre do ano passado.

Nos setores da indústria voltados para a exportação, entrementes, a preocupação é com a onda de apreciação do real frente ao dólar norte-americano, que em 2009 já desvalorizou 22,45% em relação à nossa moeda. Ao passo que alguns analistas argumentam que a valorização do real abre as portas para investimentos diretos na economia, outros afirmam exatamente o contrário, referindo-se em especial à indústria de transformação que perde competitividade com o real forte. O economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), Júlio Sérgio Gomes de Almeida, assinala que “o Brasil está implementando um modelo econômico voltado para o mercado interno difícil de sustentar num mundo globalizado”. Para dar certo, o nível da demanda doméstica teria de crescer a taxas chinesas para garantir o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e, de quebra, compensar a diminuição das vendas externas.

continua após a publicidade