Muitos imaginavam que isto fosse acontecer, mais cedo ou mais tarde. Mas veio com uma força inesperada e em um ataque surpreendente. Às 20h30 da última quinta-feira, o Partido Verde (PV) lançou, sem lançar, sua candidata à presidência da República: a senadora Marina Silva (AC).

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Foram dez minutos de programa eleitoral gratuito, em rede nacional de rádio e televisão, em que ela foi soberana, mal dividindo espaços com as outras estrelas do partido: o ministro da Cultura, Zeca Ferreira, o músico e ex-ministro Gilberto Gil, o deputado Zequinha Sarney (sim, há um Sarney no PV) e os militantes Fábio Feldman, Alfredo Sirkis e Fernando Gabeira, este o icônico líder dos ecologistas desde que voltou do exílio, em 1979. Todos foram “escadas”, tal Dean Martin nos filmes de Jerry Lewis, para a estrela brilhar.

Foi praticamente um “esta é sua vida” (antes de celebrizada no programa de Fausto Silva, a trajetória de personalidades era destaque do apresentador J. Silvestre, já falecido) da senadora acreana, recém-chegada ao PV, vinda de um traumático rompimento do PT, onde militava há cerca de trinta anos. Desde o nascimento, o estudo e o sofrimento em uma aldeia que ficava perto da capital Rio Branco – mas que, naquele tempo, era longe -, passando pela militância ecológica, a amizade com Chico Mendes, as mobilizações do final da década de 80, já com Gabeira e Sirkis, e enfim a chegada à política, a eleição para o cargo de senadora e o período no Ministério do Meio Ambiente. Tudo entremeado com depoimentos de Marina no gabinete que ocupa no Congresso Nacional.

Bem editado, com recursos quase nunca vistos em um programa de partidos pequenos, como é o PV, o espaço destinado a Marina Silva prendeu a atenção de quem viu, e certamente foi o sinal claro de que a ex-ministra entrou em campo para a dura partida da sucessão presidencial. Foi, a rigor, o primeiro movimento claro de um político na disputa pelo Palácio do Planalto – mesmo que, é bom repetir, em momento algum se falou em candidatura.

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Mas, em contrapartida, falou-se em desenvolvimento, em “país que é uma potência mundial”, em ecologia e em compromisso com a defesa da Amazônia… E também em “unir especialistas, pesquisadores, políticos, toda a sociedade para construir um projeto para o Brasil”, a escorregadia sugestão de se formar um grupo de notáveis (que já está sendo preparado) para auxiliar a senadora a partir de agora. E tudo isto com uma plataforma básica irresistível, que só Marina pode oferecer sem passar por demagoga: “o desenvolvimento sustentável”.

No discurso de entrada no PV, Marina explicou um pouco mais: “Não é mais possível imaginar o desenvolvimento, sem que isso se traduza em duas responsabilidades: como atender os reais direitos das gerações presentes, sem que isso signifique comprometer os reais e legítimos direitos daqueles que ainda não nasceram? Essa é a equação que está colocada em todo o mundo, para todos os homens, para todas as mulheres, de todos os setores da sociedade. É isso que chamamos de desenvolvimento sustentável”.

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Só ela traz a verdade ao falar do assunto, porque ela vive intensamente o meio ambiente. Dilma Rousseff, José Serra e Ciro Gomes precisam da ajuda de técnicos para chegar onde Marina já está há anos. E este é um trunfo poderoso no jogo sucessório.

Mas Marina Silva e o PV precisam de mais. Não será só uma ideia que levará a senadora a um segundo turno, e a uma possibilidade de vitória. Ela terá que mostrar para a sociedade que não é apenas a portadora de um plano utópico, daqueles que todos apoiamos, mas pouco acreditamos. Marina precisará transformar sua credibilidade em real possibilidade de realizações. Sem isso, não mobilizará aqueles que sequer sonham com “desenvolvimento sustentável”, pois nem tem o que comer todo dia em suas casas.