Marina é de briga

A senadora Marina Silva (PT-AC), nesse momento alçada à posição de relevância merecida na política brasileira vai aos poucos, mas com firmeza e integridade de caráter, assumindo tanto o discurso quanto a postura exigidos de um pré-candidato à presidência da República. A sucessora de Chico Mendes, lendário líder dos seringueiros do Acre assassinado pelo destemor com que lutou em defesa dos povos da floresta, desde que seu nome foi incluído dentre os demais pretendentes ao cargo, só fez expandir seu estoque de solidariedade popular, como poucas vezes se viu no País, a ponto de representar para os principais integrantes da executiva nacional do PT uma torturante enxaqueca que, de modo particular, aflige também o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O assunto tornou-se obrigatório para os líderes partidários, incluindo o deputado cassado José Dirceu, que atua nos bastidores como organizador da campanha da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à presidência da República em 2010. Dirceu mantém um blog e já postou algumas observações ferinas quanto aos rumores de que Marina estaria se preparando para trocar o PT pelo PV e, destarte, viabilizar a candidatura presidencial. Dirceu, agindo nesse aspecto como um autêntico rábula paroquial tem insinuado que o mandato da senadora acreana pertence ao povo acreano e ao partido, porquanto eleita com o apoio da militância petista do longínquo estado, além do esforço do governador Jorge Viana e seu irmão, senador Tião Viana. Dirceu reinventou a roda.

Conduta mais moderada e elegante foi demonstrada pelo deputado Ricardo Berzoini (SP), presidente da executiva nacional, ao expressar seu pensamento sobre o mandato de Marina: “Tenho certeza de que ela é tão educada que, se chegar nela e pedir, ela o devolverá. Mas não acho que seja necessário. Não é preciso fazer isso”, comentou dando a entender que o partido não pretende exigir a devolução do mandato, caso Marina Silva venha a aceitar o convite do PV. Berzoini reconheceu o contexto desafiante que a senadora está vivendo e como todos os apelos para sua permanência no partido foram infrutíferos, o remédio é buscar a conformação. “De fato, Marina está vivendo um momento de reflexão. Se ela ficar, muito bem; se sair sabe que terá a minha amizade sempre”, assegurou.

Para não exaurir o precioso latim em comentários extemporâneos, Dirceu houve por bem ferir a tecla da imposição da fidelidade partidária, que na sua ótica não deve ser considerada meramente uma lei ou decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), mas um valor bem mais elevado. Invocando “a luta de dezenas de anos da esquerda” que culminou com a eleição de Marina para o Senado, o ex-ministro decerto quis mexer com os brios da petista histórica, procurando sensibilizá-la em meio ao clima de apreensão no partido diante do iminente ingresso da senadora na disputa presidencial.

Em entrevistas quase diárias à imprensa, Marina não arrefece os sinais de que deverá aceitar o convite do PV para concorrer à sucessão de Lula. Uma das evidências é o desprendimento quanto à preservação do mandato: “Quando falo de algo da magnitude do que estou fazendo, não seria o medo da perda do mandato que me faria desistir do que acredito e do que defendo. O mandato é uma honra que recebi do povo acreano. O cálculo político apequena o debate”.

O PV realizou uma pesquisa de intenções de voto em julho, por telefone, apurando que nos quatro cenários de confronto direto com Dilma, a senadora perde em um empata em outro e ganha em dois, conforme tabulação definitiva do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe). No primeiro cenário (Serra, Ciro, Dilma e Heloísa Helena) Marina ficaria em quinto lugar com 10%. Sem Heloísa, a senadora sobe e empata com Dilma em 14%, liderando Serra com 30% e Ciro com 22%. Caso Ciro não dispute, Marina venceria Dilma por 24% a 16% e Serra subiria para 37%. Com Aécio no lugar de Serra e Ciro de fora, Marina salta para o primeiro lugar com 27% das intenções, 25% do governador mineiro e 19% de Dilma.

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