Mão forte

A presidente Dilma Rousseff (PT) não demonstrou fraqueza e endureceu a discussão em torno da distribuição de cargos nas mais diversas esferas do governo federal. E fez muito bem. O fato de as pessoas chamadas para assumir os postos em disputa serem ou não qualificadas para tal pode ser objeto de outra análise. O que está em pauta é a guerra armada pelo partido do vice-presidente Michel Temer, o PMDB, para ocupar cada vez mais espaço. A recém-empossada chefe do Poder Executivo está fazendo o que se espera dela: que não se dobre diante das pressões que está sofrendo e vai sofrer durante todo o seu mandato.

Desde os primeiros dias de trabalho no Palácio do Planalto, Dilma tem se mostrado mais presente que seu antecessor, o também petista Luiz Inácio Lula da Silva. Modernizou o gabinete presidencial, trabalha incansavelmente junto aos seus ministros e intervém com propriedade em questões gerenciais e de ordem econômica. Ela trouxe outra dinâmica ao comando do Estado brasileiro. Mas parece que os peemedebistas não souberam ler as entrelinhas da cartilha da nova presidente. Acharam que ela iria ceder diante das primeiras dificuldades. Erraram o alvo e provocaram uma reação imediata contrária às suas pretensões.

Dilma já avisou para quem quis ouvir que não acatará a demanda do PMDB. O partido do vice está insatisfeito com a distribuição dos cargos de segundo escalão. Já perdeu espaço na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), deve ficar sem o controle da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e pode deixar de controlar estatais do setor elétrico, como a Eletrobrás, por exemplo. Isso dói na alma e no bolso dos peemedebistas, que lutam por um quinhão maior do que é seu de direito por apoiar a petista na eleição de outubro de 2010.

Falta ao PMDB a consciência de que sua participação na campanha eleitoral em quase nada pesou na decisão dos eleitores brasileiros de eleger Dilma Rousseff. Podem até ter incrementado o volume de recursos destinados à disputa do pleito, mas decisivos os peemedebistas não foram. O que pendeu em favor da nova presidente, sem a menor sombra de dúvida, foi o desejo da maioria do povo brasileiro de dar continuidade aos oito anos de trabalho de Lula. Por isso, e em função das prerrogativas do cargo, Dilma tem autoridade e respaldo para barrar os insurgentes interesseiros com a sua mão forte.

Por outro, a chefe do Executivo federal tem que usar doses de sua habilidade política para conter os focos de crise, pois eles podem trazer reflexos indesejáveis à eleição da presidência da Câmara e à votação de projetos importantes no Congresso, como o novo salário mínimo, fixado em R$ 540 ainda na gestão de Lula. Porém, as doses recomendadas devem ser de referência homeopática, porque, afinal, nem o próprio PMDB se entende. Não falam a mesma língua e nem mesmo estão unidos no grau de insatisfação. Chama a atenção o contraste da relativa tranquilidade demonstrada por peemedebistas no Senado e as queixas do grupo mais próximo de Temer.

O ponto final na briga por espaço ainda está um pouco longe de acontecer, mas Dilma acertou nos primeiros passos para resolver o problema. Sua desistência em ampliar a coordenação política do governo para incluir um representante do PMDB também é motivo de aplausos. A ideia de manter fechado o núcleo da coordenação para facilitar a conversa entre os partidos durante o período de crise é salutar. O tamanho do núcleo duro do governo é o ideal para resolver os problemas mais graves entre os dois maiores parceiros da aliança. Foi só o primeiro teste. Saiu-se bem a pupila de Lula. O placar está aberto a seu favor. E que Temer e os seus se contentem com o papel de coadjuvantes.

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