O ex-governador Roberto Requião (PMDB) mostrou ser um homem precavido. Deixou o inimigo Orlando Pessuti (PMDB) no comando do Executivo estadual, se lançou numa campanha arriscada ao Senado, venceu por diferença mínima de votos e garantiu a proteção do foro privilegiado para responder os atos praticados durante seus quase oito anos de gestão. Mais aplausos para a escolha acertada do agora senador após a cruzada contra a pilhagem e a corrupção no Porto de Paranaguá lançada na última quarta-feira por Polícia Federal, Receita Federal e Ministério Público Federal. O calvário judicial no futuro pode até ser simplificado por conta das prerrogativas do cargo no Congresso Nacional, mas o velório político do ex-mandatário paranaense está em vias de começar. E para o enterro, muito não falta.

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Como separar Requião, o Roberto, das falcatruas perpetradas contra o terminal, o povo parnanguara, os cofres públicos e a iniciativa privada? Afinal foi o próprio quem escolheu os superintendentes da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) e permitiu que, ao longo dos anos, os crimes de apropriação indébita, estelionato, formação de quadrilha, falsificação de documentos, falsidade ideológica, corrupção passiva, corrupção ativa, descaminho, fraude em licitação e desvio de cargas fossem praticados. Outra: no comando da Appa esteve ninguém menos que Eduardo Requião, irmão do senador, que depois passou o cargo para seu braço direito e ex-diretor administrativo e financeiro da entidade Daniel Lúcio de Oliveira de Souza, preso por agentes federais no Rio de Janeiro. Não há como desvincular o ex-governador do irmão.

Seguindo sua cartilha do político arrogante e convicto da impunidade, Roberto Requião ainda não procurou e nem atendeu os veículos do comunicação para dar explicações sobre os recentes fatos ao povo paranaense. Ele deve tais esclarecimentos pelo menos aos seus eleitores. Para não dizer que absolutamente nada fez, o senador utilizou o Twitter para defender o parente. Disse, vejam só tamanha desfaçatez, que Eduardo foi quem denunciou o sumiço de soja no porto. Disse mais: “O setor privado impede o porto de comprar draga. Os desvios de soja foram denunciados pelo Eduardo”; “Já fizeram busca e apreensão na casa do irmão do Lula. Depois pediram desculpas”; “Não perdoo nem o pecador nem o pecado, confio no meu irmão. Dentro da lei tudo deve ser apurado”. O meio escolhido limita a discussão do caso aos seguidores do ex-governador no microblog e demonstra acanhamento para tratar de um assunto de extrema gravidade.

Além do irmão, Requião tem que enfrentar o fato de que seu segundo suplente no Senado, o ex-secretário de Estado da Indústria, Comércio e Assuntos do Mercosul e ex-secretário especial Luiz Guilherme Gomes Mussi também foi objeto de investigação da Operação Dallas. Mussi teve sua casa vasculhada por policiais federais em busca de evidências dos delitos cometidos no porto. Difícil explicar que pessoas muito ligadas ao ex-governador estivessem envolvidas com ilicitudes durante sua gestão e ele simplesmente não tinha conhecimento do que se passava diante do seu nariz.

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Atirar companheiros e até familiares aos leões para se livrar da culpa por atos de bandidagem não é novidade para Roberto Requião. É do seu feitio. Descarado, atribui o crime a qualquer um que atravesse seu caminho, abusa da demagogia em discurso inflamado de autodefesa, cita a Carta de Puebla e finge ser o mais respeitado, honesto e ético dos cidadãos. Resta aguardar o prosseguimento das investigações e as provas serem reveladas para que o teatro “requiônico” comece a ser encenado. O roteiro é conhecido. O final é que não pode ser feliz para os protagonistas.