Nas últimas semanas, muito se discutiu sobre a mudança do calendário do futebol brasileiro. Para os menos inteirados, a sugestão é de se alterar o início das competições, adequando-se ao estilo europeu, começando na metade do ano (em agosto) e terminando no ano seguinte (encerrando os torneios em junho). A medida evitaria o êxodo de atletas no decorrer do campeonato brasileiro, como notadamente acontece nesta temporada, mudando o equilíbrio de forças e alterando o andamento da competição.
O mais interessante é a forma como surgiu (ou ressurgiu) o assunto nos bastidores do futebol. Foi a partir de uma reclamação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não gostou de ver seu time do coração, o Corinthians, perder três jogadores – o lateral André Santos, o volante Cristian e o meia Douglas – por conta de negociações para o futebol do exterior. Irritado com a situação, ele reclamou com o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira.
A história foi contada na revista Veja: de tão interessado no assunto, Lula foi mais longe. Quando Teixeira disse que teria que contar com o aval da Rede Globo, principal parceira da CBF, o presidente avisou que já tinha conversado com um dos filhos de Roberto Marinho, e que o caminho para a mudança do calendário estava pavimentado. A alteração deve vigorar a partir de 2011.
É provável que a medida melhore o nível de nossos campeonatos. Apesar de não conter o êxodo completamente (o problema é econômico), pelo menos acertaria o futebol brasileiro ao calendário internacional, evitando que os atletas saiam no meio das competições. Mas o surpreendente é a forma como aconteceu, simplesmente porque o presidente da República não gostou das negociações que seu time fez.
A intervenção presidencial demonstra o nível de comprometimento do centro do poder do esporte brasileiro. Uma ação deste tamanho só será tomada por vontade superior, que é atendida prontamente. Os clubes e os atletas, principais interessados, sequer são consultados.
