O texto é do jornal O Globo: “Segundo uma fonte do governo que está no Planalto desde o início do governo Lula, José Dirceu nunca deixou de frequentar, discretamente, os gabinetes dos amigos deixados lá. (…) Da tendência majoritária do partido, a Construindo um Novo Brasil, Dirceu, na condição de dirigente da legenda, ouviu reclamações dos representantes de várias tendências e até se reuniu com o presidente do PT, José Eduardo Dutra. Semanas antes, Dirceu tomou café da manhã com o presidente Lula no Palácio da Alvorada. Foi quando Lula lhe disse que, depois que deixar a Presidência, “vai desmontar a farsa do mensalão’. A rebelião petista teve início por causa da forte presença, no ministério de Dilma, da tendência Mensagem, liderada pelo governador eleito Tarso Genro (PT-RS). Além da confirmação do deputado José Eduardo Martins Cardozo (PT-SP) para o Ministério da Justiça, a presidente eleita já decidiu manter no cargo outro integrante da Mensagem, o ministro da Educação, Fernando Haddad. Nos bastidores, o próprio Dirceu tem criticado o fortalecimento da Mensagem. Ele resiste ao nome de Cardozo na Justiça, mas o deputado ganhou a confiança de Dilma durante a campanha. Outro nome que não agrada a Dirceu é o do deputado Antônio Palocci (PT-SP), futuro chefe da Casa Civil – com potencial de ser o ministro mais forte do novo governo petista”.

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Pois então José Dirceu segue firme e forte dentro da administração do PT. Continua tendo portas abertas nos principais palácios de Brasília, gabinetes abertos por ministros e “poderosos”, ainda tem a força dentro do partido para negociar cargos e tentar equilibrar forças. E, principalmente, segue com influência direta no presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Quem não se lembra pode recordar. Quando Lula foi eleito, Zé Dirceu era seu braço direito. Era o responsável pelas conversas com os empresários, seria em tese o avalista de um projeto sócio-econômico mais brando do PT. Coordenou, ao lado de Antonio Palocci, o programa de governo do candidato, e foi um dos responsáveis pela divulgação da hoje famosa “Carta ao Povo Brasileiro”, decisiva na vitória de Lula na eleição de 2002.

Ao chegar ao Planalto, como ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu passou a estar na antessala do poder – isto se não estava instalado no coração do poder. E não soube administrar a força que tinha. Queria mais. Queria não só ser o avalista de Lula, o ministro que daria o tom do governo, o homem que “costuraria para dentro”. Queria ser o futuro sucessor, o mais visível símbolo do governo do PT, queria conquistar o Brasil como não conseguiu quando líder estudantil.

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Como se sabe, ele trocou os pés pelas mãos. Foi o principal operador político do governo no Congresso, e no mínimo se omitiu quando se começou a falar em dinheiro nas negociações com outros partidos. Toda a prepotência que demonstrava quando ministro foi lembrada por situação e oposição durante o escândalo do mensalão – e neste momento ele perdeu a confiança de boa parte dos petistas, incluindo Palocci, Tarso Genro e José Eduardo Cardozo.

Os três agora estão muito fortes – um governador eleito e dois futuros ministros do governo Dilma Rousseff. São, em quase todos os aspectos, personagens que antagonizam com o estilo de José Dirceu (apesar de Palocci já ter dado suas escorregadelas). Ele terá que se esforçar para conseguir todo o poder de volta, dentro do PT e no governo federal.

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