Fracasso no campo

Estamos discutindo desde domingo o triste acontecimento que sucedeu o rebaixamento do Coritiba para a segunda divisão do campeonato brasileiro. As cenas de violência repercutem até agora nas emissoras de televisão de todo o mundo, colocando nosso Estado na ingrata rota da selvageria “esportiva”. Pouco se fez até agora, poucos foram presos apesar da identificação de vários vândalos que participaram das agressões no estádio Major Antônio Couto Pereira. Espera-se mais, espera-se a prisão da ampla maioria dos envolvidos, com os mesmos tendo penas condizentes com o terror que espalharam para mais de trinta mil pessoas que acompanharam tudo aquilo ao vivo.

Só que a violência provocada pelos bandidos no domingo ocultou um fato inexorável: o Coritiba caiu de divisão, deixou a série A e passou à vala comum da dita “segundona”, onde já estava o Paraná Clube. Serão nossos representantes em 2010, enquanto o Atlético fica como o único paranaense na divisão de elite. Nosso futebol ficou atrás de Goiás, que terá dois times entre os “grandes”, e igual à Ceará, Bahia e Santa Catarina.

E o fracasso em campo é fruto da incompetência dos nossos dirigentes. Não temos uma participação efetiva no campeonato brasileiro desde o vice-campeonato do Atlético em 2004. Talvez algumas campanhas razoáveis de Paraná Clube e Coritiba neste período. Mas não passam disso, razoáveis. Como apontou o colunista de O Estado Luiz Augusto Xavier na edição de ontem: “Deixamos de frequentar o bloco de elite do futebol nacional e voltamos à categoria dos coadjuvantes, dos que fazem número para o campeonato poder seguir. Caiu o Coritiba, caiu o Paraná Clube, voltou o Coxa e agora caiu de novo. E pelo que se imagina o ano que vem não será dos mais animadores para o Atlético. Quer dizer: a situação já não é das melhores para quem um dia sonhou em manter-se lá em cima e percebeu que difícil mesmo é sair da vala comum”.

Nos três clubes da capital paranaense, a falta de visão estratégica e a vaidade de dirigentes foi decisiva para os péssimos resultados dos últimos anos. O Atlético, que no final das contas soltou foguetes pela permanência na primeira divisão, mostra-se à frente dos outros times – mas ainda terá que extirpar a herança do ex-presidente Mário Celso Petraglia, que criou uma filosofia “neoliberal”, transformando o clube em entreposto de atletas, que às vezes mal ficavam em Curitiba e eram negociados com vulto para o exterior. Esta falta de interesse em montar times fortes gerou sofrimento. O Furacão ficou só no apelido e, ano após ano, o time vive da constante luta para fugir do rebaixamento.

O Paraná Clube se entregou para empresários que pouco se interessam se o time vai bem ou mal – importa é que os jogadores se valorizem e, quando possível, saiam do clube. Sem dinheiro e sem orientação, o Tricolor da Vila Capanema chegou ao fundo do poço em 2009, correndo risco de cair para a terceira divisão. Enquanto isso, os empresários festejavam lucros e disputavam a primazia dos negócios com dirigentes, que ficavam impotentes ante o predomínio dos forasteiros dentro do clube.

Já o Coritiba pagou caro a vontade de muitos aparecerem e de alguns se aproveitarem do clube. Há quem ganhou dinheiro (e bastante) nas costas do Coxa, enquanto o orçamento minguava e as dívidas aumentavam. Além disso, o egocentrismo de diretores, somado à luta política interna, provou que não se faz futebol sem um comando forte e interessado. Recheado de iniciantes, a direção do Coritiba naufragou e levou o time para as profundezas da segunda divisão. O último capítulo da tragédia do centenário alviverde foi no último domingo, onde a diretoria do clube viu um funcionário agredir pessoas a torto e a direito, e até a tarde de quinta-feira não tinha tomado a única decisão plausível, que era a de demitir o cidadão e denunciá-lo às autoridades.

Enquanto os times paranaenses afundam, os torcedores sofrem e choram. E os “especialistas” pouco se importam.