Tudo caminhava para ser uma aclamação tranquila do deputado estadual Valdir Rossoni (PSDB) a presidente da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep). Até um abaixo-assinado de apoio incondicional foi firmado em novembro de 2010 em favor do tucano. Ninguém mais esperava que alguma coisa poderia atrapalhar o rumo da eleição de fevereiro. Mas, pelo menos, um princípio de tumulto está instalado no Poder Legislativo. Ainda não é possível afirmar categoricamente que os planos do parlamentar peessedebista sofrem uma ameaça real, porém chuvas e trovoadas estão previstas para os próximos dias sobre a região do Centro Cívico de Curitiba.

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O ex-presidente da República Getúlio Vargas usou o termo “forças ocultas” em sua carta-testamento para referir-se a opositores que tramaram contra sua gestão. Outro ex-presidente, Jânio Quadros, atribuiu sua renúncia à “forças terríveis”. Ambas as referências são vagas e permitem várias interpretações. Como o caso conturbado da eleição para presidente da Alep vem apresentando muitas nuances, o futuro líder do governo Beto Richa (PSDB) na Casa, Ademar Traiano (PSDB), enriqueceu a lista de expressões que tudo dizem sem ter nada a informar. Ele atribuiu a “forças estranhas” os “boatos” sobre o surgimento de uma oposição a Rossoni encabeçada pelo também tucano Nelson Garcia.

Os fatos contam que diversos parlamentares disseram ter ouvido falar sobre a nova corrente, ao mesmo tempo em que afirmaram sequer terem sido procurados pelo deputado Nelson Garcia ou por qualquer outro simpatizante do novo grupo. Para completar, surgiu uma suposta nota oficial em que Garcia confirmaria a candidatura. O gabinete do deputado, no entanto, negou a princípio a autoria da nota e salientou que Garcia estava incomunicável, em uma fazenda no interior do Estado. Depois resolveram confirmar que produziram a nota. E o deputado continua escondido nos confins do Paraná. A história é muito controversa e cheira a jogo de interesse, tanto que há várias versões sobre o surgimento da nova candidatura.

Existem versões ainda que se referem ao descontentamento com a postura de Rossoni, que teria deixado de dialogar com os deputados depois de ter sua candidatura em chapa única assegurada. Como ninguém assume uma postura digna de respeito desde o início da questão, chega-se à conclusão que a verdadeira intenção é criar um cenário para pressionar e propor negociatas. O pleito não é o foco dos agitadores. E o bem comum tão pouco. Para os parlamentares, o mundo gira em torno dos seus próprios umbigos e nada é mais importante que seus interesses individuais.

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O pseudomovimento de oposição tem o objetivo de pressionar Rossoni ou, até mesmo, Richa. O bate-chapa não deve mesmo ocorrer. Como bem dizem alguns deputados: “Estão plantando essa dificuldade para tentar colher alguma facilidade”. A iniciativa é vergonhosa, medíocre do ponto de vista ético e só faz desmoralizar ainda mais a Casa.

Da mesma forma que o PMDB do vice-presidente, Michel Temer, vem tentando causar problemas políticos para a presidente Dilma Rousseff (PT) só para demonstrar sua insatisfação com a distribuição de cargos no governo federal, os deputados querem tumultuar a Assembleia como forma de se rebelar com as escolhas de Richa para ocupar vagas no governo estadual. Não há inocentes em todo esse imbróglio. Todos agem para acumular benefícios e poder. Cada qual quer mandar mais que o outro e esquecem qual é a função do deputado estadual.

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