Não se pode negar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é uma personalidade internacional. Chamado de “o cara” pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, Lula conseguiu ultrapassar as fronteiras e colocar-se como um grande líder mundial, respeitado pelos seus pares e admirado pelo público.

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Dois fatores fundamentais fazem de Lula um líder político relevante. O primeiro, que nós já conhecíamos, é o tremendo carisma – que faz dele, inclusive, o presidente mais popular da história do Brasil. Seu estilo bonachão agrada todo mundo, e ele conquistou vários pontos com seus colegas graças ao alto astral com que encara as (às vezes) complicadas reuniões de cúpula.

O segundo é um posicionamento independente que nenhum outro líder político brasileiro conseguiu ter. Getúlio Vargas sonhou em ser um Mussolini dos trópicos. Com seu estilo imperial, Ernesto Geisel pensou ser possível uma diplomacia forte. E Fernando Henrique Cardoso tinha o respeito pelo cabedal de conhecimentos. Mas Lula é, apesar de suas dificuldades, ousado o suficiente para não deixar barata qualquer situação.

Além disso, trafega com tranquilidade por todos os lados. O exemplo a seguir é peculiar: ele conseguiu trazer ao Brasil o presidente de Israel e ex-prêmio Nobel da Paz, Shimon Peres, e vai receber no fim de semana o virulento e temerário presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Sofreu pressões, ouviu muito, mas conversou com ou (e conversará com o outro) e nada vai acontecer. Assim como tem as portas abertas com Obama e com o “enfant terrible” do bolivarismo, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

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Perto do final de seu mandato, Lula está se soltando ainda mais. Esta semana, partiu para o ataque na Cúpula Mundial sobre Segurança Alimentar da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO). Segundo matéria de O Estado de S. Paulo, ele reclamou das nações ricas e pediu dinheiro para o combate à fome: “Frente à ameaça de um colapso financeiro internacional, causado pela especulação irresponsável e pela omissão dos estados na regulação e fiscalização do sistema, os líderes mundiais não hesitaram em gastar centenas e centenas de bilhões para salvar bancos falidos. (…) Com menos da metade desses recursos, seria possível erradicar a fome no mundo. (…) Necessitamos, sim, de medidas que funcionem em situações emergenciais. O mais importante, no entanto, são as soluções de longo prazo, capazes de prevenir calamidades”.

Além disso, reclamou dos subsídios agrícolas (“vergonhosos”, na opinião do presidente) e pediu a reforma das instituições financeiras internacionais, no caso o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. Depois, ainda na Itália, onde acontecia o encontro da FAO, ao saber que Estados Unidos e China não pretendiam criar metas para a redução da emissão de gases, Lula criticou os dois países e disse que seria duro na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-15), em Copenhague, na Dinamarca.

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Como ficou claro, Lula falou grosso. Não foi apenas para os jornalistas brasileiros, foi com a imprensa internacional, e durante a reunião da FAO em Roma. Manteve a postura independente, e até acelerou – talvez demais. E para fazer isso, o presidente precisa “se garantir”. Continuar se colocando como um líder influente significa agir de forma adequada no país que comanda. Muito do que se falou de FHC era de que ele era um estadista no exterior e um presidente fugidio no Brasil. Lula, de forma alguma, pode incorrer no mesmo erro. Ainda mais quando está, claramente, tentando cacifar uma sucessora nas eleições de 2010.