“Eu não brinco mais”

Vamos voltar à infância? Muita gente deve ter passado pela situação a ser relatada agora. Coloquemos a imaginação para trabalhar: é o dia do aniversário do pequeno Betinho. Ele está fazendo oito anos. Convidou vários amiguinhos para a festa, com bolo, docinhos e salgadinhos. Um deles, o Orlandinho, não pôde ir, tinha compromissos com os pais. O que faria Betinho? Ficaria chateado, mesmo que outros e muitos amigos comparecessem à festa? Pararia de conversar com ele por algum tempo? Nunca mais olharia na cara do amiguinho?

Vamos andar um pouco no tempo, e Betinho virou Bob, um adolescente de 19 anos, começando na faculdade. Toda quarta-feira ele encontra os amigos para um jogo de futebol em uma cancha de grama sintética. Num desses encontros, Orlandinho não compareceu. Coisas da vida. O que faria Bob? Nunca mais convidaria o amigo para o futebol? Reclamaria do companheiro no dia seguinte na faculdade e tocaria a vida? Ou, na quarta seguinte, Orlandinho iria com sua camisa 7 e nada teria acontecido?

Transporte o caso para o governo do Paraná. E leia o que a repórter Elizabete Castro escreveu na edição de quarta-feira de O Estado: “Preocupado com o processo eleitoral de 2010, um grupo de deputados peemedebistas decidiu intervir para restabelecer a harmonia entre o vice-governador Orlando Pessuti, pré-candidato do partido ao governo, e o governador Roberto Requião. Os deputados se reuniram com o vice-governador anteontem para pôr um fim no impasse, que começou no feriado da padroeira de Curitiba, Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, no dia 8 de setembro. Pessuti era a favor da suspensão do expediente na administração pública e Requião decidiu cancelar o feriado. Na Escola de Governo no dia 8, Pessuti faltou e foi à missa na Catedral Basílica de Curitiba. A birra entre Pessuti e Requião seria mais um episódio folclórico na difícil relação entre governadores e seus vices no Paraná, se fosse outro momento. (…) Alexandre Curi, Nereu Moura e Luiz Claudio Romanelli estão empenhados em promover a reconciliação. Foram conversar com o vice-governador, que estaria impedido de usar o avião do governo. Além disso, informações sobre sua atuação já não são mais vistas nos espaços de divulgação da administração estadual”.

Entendeu? Resumindo, por não ter ido à Escola de Governo do dia 8 de setembro, feriado em Curitiba, o vice-governador Orlando Pessuti está sendo duramente retaliado pelo governador Roberto Requião, no melhor estilo “então eu não brinco mais”. Pessuti, o segundo homem mais importante na hierarquia do Paraná, simplesmente não aparece na Agência Estadual de Notícias, na rádio Educativa e na TV Paraná Educativa. Os jornalistas que trabalham nas empresas públicas receberam a ordem de não citar, não filmar e principalmente não entrevistar o vice-governador do Estado. Como se ele fosse um proscrito.

Imagine como ficou Requião depois de ver Pessuti ao lado do prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB), tratando da possível construção do metrô na capital do Paraná e de outras obras de infraestrutura que devem entrar no pacotão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Copa do Mundo de 2014. Certamente reiterou as ordens de simplesmente esquecer que o vice-governador existe.

Este é o estilo do homem que governa o Paraná. Estilo que, por sinal, é aplaudido por vários áulicos, muitos deles com cargos bem remunerados em várias autarquias públicas – e olha que, em alguns casos, nem precisam trabalhar. Orlando Pessuti, homem público honrado, legítimo candidato do PMDB ao governo do Estado em 2010, certamente não precisava passar por este constrangimento a esta altura da vida pública. Pelo menos ele tem a certeza de que nada fez de errado.