“Ele acreditou…”

Há algum tempo, fazia grande sucesso na televisão o quadro do “seu Saraiva”, no programa Zorra Total, da Rede Globo. Eram os esquetes protagonizados pelo próprio Saraiva (o falecido comediante Francisco Milani) e sua esposa em vários locais. Ele tinha dois bordões: o primeiro, em quase toda a cena, era o “pergunta idiota, tolerância zero”, que era usado a cada intervenção tosca dos outros artistas; o segundo era o “ele acreditou…”, que aparecia no momento em que Saraiva mandava o incauto ver se ele estava na esquina, e o cidadão ia.

É mais ou menos o caso do governador do Paraná Roberto Requião (PMDB). Ele parece ter ouvido o seu Saraiva gritando: “Vai, Requião! Vai que você pode ser presidente da República”.

E o governador saiu como louco para fazer valer o seu interesse em ser pré-candidato à presidência. Na edição de ontem de O Estado, a repórter Elizabete Castro relatava as incursões de Requião: “O governador Roberto Requião começa, neste final de semana, sua campanha interna para obter o apoio do PMDB à sua pré-candidatura à presidência da República nas eleições do próximo ano. Requião irá participar das convenções estaduais do partido em Santa Catarina, amanhã, dia 12, e em São Paulo, no dia 13. A convenção do PMDB será em Florianópolis e a paulista será realizada na Assembleia Legislativa de São Paulo. No próximo fim de semana, Requião vai a Salvador, na Bahia, para o encontro nacional da juventude do PMDB. Em janeiro, Requião irá ao Rio Grande do Sul, Sergipe e Piauí. Requião vai participar dos encontros com a expectativa de que paulistas, catarinenses e a ala jovem do partido aprovem moções de apoio à candidatura própria do partido. A pré-candidatura é apresentada pelo governador como contraponto ao pré-acordo feito pelo presidente licenciado do PMDB, Michel Temer, para se aliar ao PT e integrar a chapa da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff”.

Dois pontos norteiam o caminho de Requião. O primeiro está no interesse próprio – e de outros políticos do PMDB – em que o partido discuta a possibilidade de lançar candidato à presidência. Esta é uma discussão natural e justa, os peemedebistas têm o direito, como maior partido do País, em pensar na candidatura própria. Mas a fragmentação atrapalha os planos do governador do Estado e de outros. Se sabemos que Requião sequer tem o apoio pleno do partido no Paraná, imagine em outros diretórios.

O segundo ponto é justamente a garantia de uma candidatura e uma disputa pela indicação. É possível dizer que Requião é um dos nomes mais fortes dentro do partido, até pelo cargo que ocupa. Mas há certamente nomes mais interessantes dentro do PMDB – o primeiro, pela linhagem de correção e elegância, é o senador pernambucano Jarbas Vasconcelos. O prefeito de Porto Alegre, José Fogaça, é outro potencial candidato, pela popularidade e pelos números favoráveis em seu mandato.

Mas nem um, nem outro acenam com a possibilidade de lançar candidatura. Isto porque sabem que é inviável unir o PMDB em torno de um nome próprio. E é aí que Requião é usado sem saber – ou sabendo, o que é pior. O governador é apenas um subterfúgio usado pelos diretórios que não pretendem apoiar Dilma Rousseff. E não para uma aventura solo, mas sim para apoiar descaradamente o governador de São Paulo José Serra (PSDB) na eleição do ano que vem.

Foi por isso que apareceu um Saraiva no PMDB para dizer a Requião que ele podia, sim, ser candidato à presidência da República. Depois de ver tudo que o governador está fazendo nos últimos dias, e fará nos próximos (esquecendo de seus afazeres no Paraná), o saudoso seu Saraiva diria: “Ele acreditou…”.