A matéria é do repórter Roger Pereira, de O Estado: “No mesmo dia em que a equipe do governador Orlando Pessuti (PMDB) rebateu o diagnóstico do Estado elaborado pela transição do governador eleito Beto Richa (PSDB), os assessores do tucano divulgaram um relatório complementar em que apontam, em 24 itens, onde estariam os R$ 1,5 bilhão de “comprometimento orçamentário’ do Estado. Se em alguns itens a equipe de transição de Beto chega a ‘forçar a barra’ para alcançar os R$ 1,5 bilhão citados na terça-feira, como nos R$ 245 milhões para a ampliação da base orçamentária do Poder Judiciário e do Ministério Público, projeto da Assembleia Legislativa, aprovado com o voto dos parlamentares aliados a Beto, em outros, fica provado que o novo governo terá de fazer fortes ajustes. (…) “A informação mais preocupante deste relatório complementar é o fato de a nossa principal pergunta não ter sido respondida’, disse o secretário municipal de Finanças de Curitiba, Luiz Eduardo Sebastiani, que perguntou como está o fechamento contábil de 2010 do Estado, quais os restos a pagar e sua correspondência em caixa”.

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Aí está mais um ponto de discórdia entre o atual governo do Paraná, capitaneado por Orlando Pessuti, e o futuro, que terá Beto Richa como governador a partir de 1.º de janeiro. A rigor, todas as rusgas entre as equipes dos dois políticos envolvem o excesso de gastos dos últimos meses, que estariam chegando ao limite segundo o balanço feito pelos responsáveis pela transição.

Alguns dados são irrefutáveis. O mais evidente deles é o corte dos gastos no Sistema de Atendimento Médico de Urgência (Samu). Aí o mais desatento pode questionar – se as críticas são para o excesso de gastos, porque se reclama de um corte? Na verdade, o dinheiro que não vai para o Samu na previsão orçamentária de 2011 está na verdade indo para outros setores da administração pública, o que é preocupante.

Mais ainda porque se sabe que o serviço de atendimento médico urgente é tão importante que os gastos não ficarão apenas no previsto no Orçamento. Pelo contrário: neste 2010, a previsão era de investimentos de R$ 26 milhões no Samu, e o gasto chegou a R$ 40 milhões. Errado? De forma alguma, pois é dinheiro colocado para a salvação de vidas em acidentes graves. Incrível é que o Orçamento de 2011 prevê apenas R$ 4 milhões para o Samu, dez vezes menos dinheiro do que se usou neste ano.

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É bom lembrar que um orçamento governamental é uma espécie de quebra-cabeças. No momento em que se chega ao valor possível para todos os custos de um ano (pagamentos, juros, dívidas, obras, custeios, etc.), o dinheiro passa a ser colocado em vários setores. Não é possível passar do limite orçamentário, pois um estado não tem condições de criar dinheiro, ele não tem Banco Central nem Casa da Moeda. Então, se as contas não batem, é preciso tirar de alguma área para colocar em outra.

Só que isto precisa ser feito com inteligência e correção. Não é apenas tirar o dinheiro que financiará setores fundamentais para comportar desejos irremovíveis de políticos. E é isto que fica no ar quando se vê algumas das informações contidas na análise da equipe de transição de Beto Richa.

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Já se falou aqui, mas não custa repetir. Muitos dos desgastes que aconteceram nas últimas semanas poderiam ser evitados. Todo o programa de transição, que era levado com serenidade por Orlando Pessuti e Beto Richa, ficou pelo caminho por excesso de vontade de mostrar serviço de alguns assessores. E uma conversa entre o atual governador e o eleito poderia ser muito útil para aparar algumas arestas. O que seria muito bom para o Paraná.