Duelo em OK Curral

Wyatt Earp é uma das lendas do oeste americano, juntamente com seus amigos Bat Masterson e Doc Holliday. Earp era um jogador, andarilho e com seus irmãos Virgil e Morgan protagonizou talvez o duelo mais famoso da história do Velho Oeste: o tiroteio no OK Curral. Resumindo: no dia 26 de outubro em 1881, em Tombstone, uma disputa entre os irmãos Earp e o bando de Ike Clanton terminou em violência. Três do bando morreram enquanto Ike e mais um fugiram. Em março do ano seguinte, Morgan foi assassinado e os dois irmãos sobreviventes perseguiram os suspeitos e os mataram. Eram tempos de bandidos armados, mas o Oeste estava sendo povoado e pessoas de bem não precisavam deles. Era questão de tempo serem varridos do território.

A lembrança deste episódio num tempo e num espaço longínquos é para traçar um paralelo com o que aconteceu ontem na Assembleia Legislativa do Paraná, quando forças policiais tiveram de ser requisitadas ao governo do Estado pelo presidente do parlamento, deputado Valdir Rossoni, para a segurança da Casa não ser comprometida pelos que deveriam zelar por ela: os seguranças, comandados pelo Ike Clanton da província, conhecido pela alcunha de Tôca. E que ontem foi colocado para fora da toca.

Foi uma estreia para ambos os lados. Para Rossoni, que no dia anterior prometeu acabar com os privilégios instalados nos subterrâneos do Legislativo, e para Tôca, que, por seu lado, demonstrou que privilégios demoram anos para calcificarem e por esta razão os seus detentores não abrem mão deles de uma hora para outra, assim tão facilmente, apenas porque um deputado eleito pelo povo resolveu fazer um discurso mais inflamado e com um repentino surto moralizador que a sociedade gostaria de ouvir.

A importância simbólica do episódio de ontem foi a de demonstrar que Rossoni não está para brincadeiras. E que Tôca deve levar em consideração a possibilidade, aparentemente real, das brincadeiras com seus homens armados pelos corredores da Assembleia Legislativa do Paraná terem chegado ao fim. Um episódio às vezes banal, como um tiroteio num curral americano ou na proteção de um prédio público pelas forças policiais do Estado do Paraná, pode adquirir dimensão histórica, envolvendo forças em lados opostos da dinâmica social. Pode ser um recado como aquele de Earp ao bandoleiro Ike Clanton: a coisa acabou aqui velho. Ainda que o bandoleiro mostre armas e insinue estar armado até os dentes.

A história mostra que uma hora a coisa acaba. Seja em Tombstone, no Arizona, seja em Curitiba, no Paraná. É a marcha da evolução que não respeita armas de bandoleiros, não respeita esquemas subterrâneos e tampouco ameaças. É um processo inexorável que avança, porque se não avançar o próprio mecanismo que sustenta a sociedade está condenado a degringolar e comprometer a convivência civilizada. Os bandidos são sinônimos de barbárie. E com eles fora de cena há prenúncio de civilização.

Se um bando tomou de assalto a Assembleia e durante longo tempo o Legislativo paranaense acomodou-se sob a tirania do grupo, esta distorção teria de acabar, como ocorreu no Velho Oeste na relação perversa entre malfeitores e colonos sem vocação para a violência. Em nosso caso, o fim destes malfeitores, se ainda não chegou, parece próximo. Que assim seja para o começo de novo ciclo. Que seja melhor que o anterior.