Domínio global

Não há dúvida. Abílio Diniz é um dos grandes empreendedores do Brasil. Transformou o supermercado criado por seu pai Valentim em um gigante do comércio, associando-se a parceiros nacionais e estrangeiros. Não é um sujeito fácil, teve problemas familiares e rompeu com seus irmãos -sempre em nome do grupo Pão de Açúcar. Mas é um vencedor, um profissional que não descansa enquanto não consegue aproveitar uma oportunidade certeira.

Foi o que aconteceu no final da semana passada, quando ele novamente protagonizou um lance de ousadia e surpresa. O resumo é do jornal O Estado de S. Paulo: “O Grupo Pão de Açúcar anunciou compra do controle das Casas Bahia, criando um gigante de varejo de alimentos, móveis e eletroeletrônicos, com um faturamento combinado de R$ 40 bilhões por ano. O Pão de Açúcar é a terceira maior empresa privada do País. Com a fusão, o grupo passa a ter vendas iguais às do Wal Mart e do Carrefour juntos, seus principais concorrentes. Pelo acordo, as Casas Bahia serão sócias do Pão de Açúcar numa nova empresa de móveis e eletroeletrônicos, que inclui o Extra Eletro e o Ponto Frio, adquirido em junho. Terá faturamento anual de R$ 18,5 bilhões, 1.015 lojas físicas, espalhadas por 337 municípios, 28 centros de distribuição e 62 mil funcionários. Ficará seis vezes maior que a sua principal rival no mercado de eletroeletrônicos e móveis, o Magazine Luiza. O Pão de Açúcar ficará com 51% do capital e as Casas Bahia, com 49%. A nova companhia deverá começar a operar em 120 dias, depois da aprovação da assembleia de acionistas e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade)”.

A notícia não é simples de ser assimilada. O Grupo Pão de Açúcar não está comprando a loja da esquina, mas sim as Casas Bahia, um portento do comércio nacional, outro símbolo de empreendedorismo – no caso, protagonizado por Samuel Klein, que ainda dava expediente na sede da empresa. As Casas Bahia não só vendem muito (e barato, e em várias parcelas, e em promoções nos finais de semana, etc.) como gastam muito. É uma das empresas privadas que mais investe em publicidade no País, aparecendo sempre no horário nobre das principais emissoras de televisão e nas páginas centrais dos grandes jornais. Sem contar os encartes dominicais.

É essa empresa que Abílio Diniz está comprando – as primeiras informações falavam em fusão, mas na verdade foi uma aquisição. É um segundo golpe que o Pão de Açúcar dá na concorrência. Há poucos meses, o grupo entrou no ramo do comércio de móveis e eletrodomésticos com a compra da rede Ponto Frio, citada no texto explicativo acima. O tamanho da nova empresa assusta, quando compara-se com seu agora rival direto, o Magazine Luiza. É um domínio quase global do setor. Mas isso pouco importa para Diniz.

Ele está dando um passo que, à primeira vista, parece perfeito. Aproveitando o crescimento da classe C, que é hoje a que mais consome no Brasil, ele se embrenha no mundo das lojas de móveis e eletrodomésticos – mas por cima, e não saindo do zero. Com sua experiência de vendedor, não deverá ter problemas em assimilar a cultura das Casas Bahia e usá-la a seu favor. Ao mesmo tempo, implantará um novo estilo de administração, tão centralizado e personalista quanto o de Samuel Klein, mas sempre avançado e “antenado” com as mudanças da sociedade, da economia e do marketing.

O mercado confia muito em Abílio Diniz. Em apenas dois dias, as ações do Grupo Pão de Açúcar na Bolsa de Valores de São Paulo subiram 74%, refletindo o tamanho do impacto que foi a compra das Casas Bahia. Nestes primeiros dias, ele surge como um vencedor – de novo. Mas ninguém mais que ele sabe que não adiantará apenas a imagem para manter esse gigante. Será preciso trabalhar. E muito.