Dilma, recuperada e pronta

Nas últimas semanas, o PT patinou com seus problemas de identidade. A crise no partido ficou evidente quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu que apoiaria o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e evitaria que ele fosse alvo de investigações no Conselho de Ética da Casa. Parte da bancada se revoltou, e dois senadores deixaram o partido: Marina Silva (AC), que mudou de mala e cuia para o PV, partido que deve lançá-la candidata à presidência da República; e o paranaense Flávio Arns, que é sondado por PP, PSDB, PSB e PV.

Em meio a tudo isso, Lula se preocupava com a saúde de sua candidata à presidência na eleição do ano que vem. A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, estava na parte final do tratamento contra um câncer. Por isso, saiu do noticiário, afastando-se inclusive de alguns eventos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que é tocado pela ministra e é o carro-chefe de sua candidatura. Ao mesmo tempo, também se afastou da polêmica com a ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira, que afirmou que a ministra teria pedido “rapidez” em investigações sobre o filho de Sarney.

Dilma pode comemorar os efeitos do tratamento médico, como registrou a edição de ontem de O Estado: “Dilma disse que em uma semana poderá anunciar que superou o câncer linfático que enfrentava desde abril deste ano. “Estou muito boa, porque concluí tratamento de rádio (terapia) e na semana que vem faço os exames e aí eu acho que vou dar um anúncio que eu vou antecipar aqui, que do ponto de vista dos médicos eu estou curada’, afirmou, ontem, durante entrevista aos apresentadores do programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, de Porto Alegre. “Estou com a certeza, a esperança e a torcida’, ressaltou”.

Interessante o fato de que Dilma fez o que todos os seus conterrâneos fazem. A ex-senadora gaúcha foi anunciar as boas novas primeiro para sua terra, em um dos programas de rádio mais ouvidos no Rio Grande do Sul – estado em que, por sinal, o rádio ainda é muito forte. Claro que ela sabia que a entrevista teria divulgação nacional, que rapidamente entraria na internet e ganharia os telejornais e os jornais do dia seguinte. Mas mostra uma faceta inteligente da ministra, que aproveitou o ensejo para mostrar sua ligação com o estado natal -onde Lula tem boa aprovação e o PSDB, principal adversário petista na eleição de 2010, sofre com as acusações contra a governadora Yeda Crusius.

Dilma é uma pessoa preparada. É, entre os assessores mais diretos de Lula, quem tem a maior capacidade para criar e tocar projetos de longo alcance. Não é à toa que o presidente decidiu convocá-la para a Casa Civil quando José Dirceu “saiu”. Ela já mostrara bom serviço quando estava no ministério das Minas e Energia, convencendo quem torcia o nariz pela indicação, afinal ela é petista de última hora (fez toda a carreira no PDT). Ela rivalizaria com Antônio Palocci, mas o ex-ministro da Fazenda se enrolou em casos mal explicados e ficou para trás – mesmo assim, será candidato ao governo de São Paulo.

Recuperada do câncer linfático, Dilma Rousseff passará a aparecer mais na linha de frente de Lula. Começará a receber o crédito por obras, decisões e posições tomadas pela presidência. Tudo para que fique evidente que ela será uma seguidora da política do presidente caso seja eleita. Ela só precisará tourear, a partir de agora, as questões éticas que os adversários do ano que vem (principalmente Marina Silva, pelo PV, e o governador de São Paulo José Serra, pelo PSDB) tentarão colocar no caminho para interromper seu avanço. Se resistir aos ataques e estiver “inteira”, a ministra chega forte em 2010 e pode sim ganhar a eleição.

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