Curitiba vive nas últimas semanas um duelo entre a justiça e a prefeitura. Tudo por conta dos contratos entre o poder público e a concessionária do serviço de radares – havia um acerto emergencial, para evitar que houvesse a suspensão do sistema, mas tal acerto foi considerado ilegal pelo Tribunal de Justiça do Paraná. O Judiciário quer que os radares só sejam religados quando acabar a licitação, que está na reta final.

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Enquanto isso, portanto, os radares estão apenas aferindo a velocidade dos carros nas principais vias de Curitiba. Eles não podem funcionar para punir os motoristas. E, com isso, tornam-se retratos de uma realidade surpreendente e triste para uma cidade que se diz civilizada e ordeira.

Está na matéria da repórter Luciana Cristo na edição de sábado de O Estado: “Aumentou em dez vezes o número de motoristas que ultrapassaram o limite de velocidade permitido nas vias de Curitiba na última quinta-feira, primeiro dia em que os 110 radares da cidade foram desligados. Só ontem, até as 17h30, o total de motoristas que ignorou as placas de trânsito que indicam a velocidade máxima da via ultrapassou a média de 580 por hora. Em 24 horas, foram 10.192 excessos de velocidade cometidos e, da meia-noite até as 17h30 de ontem, mais 10.768 infrações que não puderam ser punidas. A maior velocidade registrada chegou a 137 quilômetros por hora, cravada por dois veículos na Avenida Comendador Franco (das Torres). E esse registro não foi exceção. Segundo números divulgados pela Urbanização de Curitiba S.A. (Urbs), o desrespeito à sinalização é preocupante. Mais de 30 carros passaram a mais de 100 quilômetros por hora nas primeiras nove horas de ontem dentro da cidade de Curitiba. Na última quinta-feira, quase 400 carros passaram pelos locais com velocidade acima dos 100 quilômetros por hora, enquanto essa média, até então, costumava ser de dez veículos por dia”.

A notícia é terrível. Mostra que o curitibano é adepto da “Lei de Gérson”, consagrada pelo ex-jogador em um comercial da década de 1970 – o melhor é levar vantagem em tudo. No momento em que o controle de velocidade é suspenso, todo mundo decide acelerar ao máximo, aproveitando-se da ausência de fiscalização. E, certamente, tais motoristas devem estar se vangloriando do fato de andarem nas vias públicas a mais de 100 quilômetros por hora.

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A certeza da triste realidade foi constatada com o acidente da segunda-feira, quando o jovem Eduardo Miguel Abib, de 27 anos, filho do diretor-geral da Assembleia Legislativa do Paraná, Abib Miguel, se envolveu em um acidente com outro carro, onde estavam cinco pessoas e quatro delas acabaram morrendo. Em alta velocidade e possivelmente embriagado, ele cometeu um ato de extremo risco e vidas foram perdidas.

O que os imprudentes não pensam é que há outras pessoas andando nas ruas. Outros motoristas, que respeitam sempre as leis de trânsito. Alguns deles levando crianças para a escola, para o clube, para a aula de inglês. Há quem esteja levando parentes para o hospital. E há os pedestres que precisam atravessar a rua para seguir seu caminho para o trabalho ou para casa. Todos estes estão seriamente ameaçados pelos irresponsáveis que estão se aproveitando de uma decisão judicial.

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Novamente não damos o exemplo. Falhamos ao deixar alguns “poderosos” impunes ante terríveis desvios de conduta. Falhamos ao permitir que vândalos se aproveitem do futebol para aumentar a escalada de violência. E falhamos ao usarmos de um subterfúgio para andar em altíssima velocidade nas ruas da capital do Estado. Vivemos um período de desrespeito generalizado.

E como resolver isto? Infelizmente, com o rigor da lei. Há pessoas que só aprendem com punições. No mais, é trabalho da sociedade. Somos nós os responsáveis pelas nossas ações. E também responsáveis pela correção de nossas ações erradas. E continuamos sonhando em ter uma população que respeite as leis sempre.