Desprendimento de quem pode

A nação ficou frustrada com o resultado das denúncias feitas contra o senador José Sarney (PMDB-AP), presidente do Senado Federal. O arquivamento, pelo Conselho de Ética, de todos os pedidos de investigação, foi um tapa na cara da sociedade, que imaginava que desta vez seria a chance de iniciar uma limpeza na política brasileira.

Surpreendeu a ação do PT, que era o partido que mais defendia a ética. Seus senadores apoiaram constrangidos a manobra liderada pelo PMDB de Renan Calheiros. Nomes como Delcídio Amaral (MS) e Ideli Salvatti (SC), que têm história e princípios para defender, jogaram tudo no lixo, seguindo as orientações do presidente nacional do partido, deputado Ricardo Berzoini (SP).

Mas não surpreendeu o desprendimento de alguns políticos. Eles soltaram o verbo porque podem fazer isso. Um deles é o já mitológico senador Pedro Simon (PMDB-RS), que fez uma crítica aberta a atitude de seus colegas, jogando na cara de quem arquivou os processos a dura realidade.

O paranaense Flávio Arns, um dos nomes mais límpidos do PT, também não resistiu a tudo que viu em Brasília. Com coragem, anunciou que pretende deixar o partido e manifestou-se claramente contra o arquivamento dos processos contra Sarney: “Me envergonha estar no Partido dos Trabalhadores com o comportamento que está tendo. Achava que as bandeiras eram para valer e não para mudar por causa da eleição”.

Arns tem cacife para falar. Ele abraçou a causa petista justamente por não acreditar mais no partido em que militava (o PSDB). Foi recebido de braços abertos, e não foi tomado, como tantos outros, como um arrivista. É, hoje, um dos políticos mais respeitados do Congresso Nacional, por sua ação firme e correta no Senado.

Nesta semana, ele viu demais. A casa que parece se orgulhar de contar com Fernando Collor e Renan Calheiros como seus próceres não é aquela que Arns fez tanta força para estar. Não foi para isso que ele recebeu quase dois milhões de votos. Por isso, ele desabafou. E verbalizou a sociedade indignada ao ver a enorme pizza que saiu do Conselho de Ética do Senado.

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