Desgraça de verão

Alguma coisa acontece no Sudeste brasileiro. Ano após ano, as águas de janeiro alagam, causam destruição, prejuízos e mortes. Os principais e mais ricos estados brasileiros param em plena temporada de verão, quando deveriam aproveitar o período de férias para incrementar suas economias, para contabilizar estragos, buscar corpos soterrados pela lama que despenca de morros ocupados de maneira irresponsável e irregular e clamar por ajuda do governo federal. E, quando a época dos temporais completa seu ciclo, a vida volta ao ritmo normal e todos parecem varrer as lembranças ruins do período para baixo do tapete. Nada é feito para conter ou, pelo menos, minimizar os problemas ocasionados pela chuva. Não se vê os governos estaduais planejarem e executarem obras que visem evitar os transtornos previstos e dados como certos no ano seguinte.

O Rio de Janeiro, estado que tem a sua capital como cartão postal do Brasil para o mundo, padece com administrações negligentes, que jamais foram totalmente competentes para combater o crime organizado e muito menos sequer buscaram soluções definitivas para proteger sua população dos traumas ocasionados pelo clima. O pior é que tudo contribui com a desgraça. São áreas de encostas de morro dando abrigo para precárias construções e para pousadas luxuosas. Todas elas, tanto as que servem de casa aos menos afortunados quanto as que recebem os abastados em pleno gozo de suas férias, não poderiam de forma alguma estar instaladas nesses locais. Ocorre que, ao longo da história, os gestores públicos que administraram o estado fluminense não deram a devida atenção ao problema. E os atuais governadores, que parece que só usufruíram dos benefícios de ocupar o Palácio Guanabara, muito menos. Descaso é pouco para qualificar a situação.

Para que se tenha uma ideia da dimensão das catástrofes sazonais impingidas ao Rio, nos últimos dias aconteceram mais de duzentas e trinta mortes e centenas de pessoas estão desabrigadas. Nas cidades de Nova Friburgo e Teresópolis, na região serrana, as mais atingidas pelas chuvas, a tragédia é pior que os temporais que destruíram Angra dos Reis, no litoral do Estado, em janeiro de 2010.

Outra unidade da federação que anda sofrendo em demasiado com os efeitos das fortes chuvas é São Paulo. Na capital e em seus arredores o problema é crônico. Cai um pouco a mais de água além do normal e os paulistanos ficam presos no trânsito ou não podem deixar suas casas. Não dá para imaginar algo tão lamentável quanto ver o centro financeiro do País paralisado pelo mau tempo. É inaceitável, pois São Paulo não pode parar. Vejam só o descalabro: Franco da Rocha, ao lado da capital paulista, decretou situação de emergência após parte da cidade ficar alagada em decorrência das chuvas dos últimos dias. A situação foi agravada ainda pelo aumento da vazão da represa Paiva Castro. A água invadiu a prefeitura, a Câmara municipal, a cadeia pública, entre outros prédios, desalojou famílias e vai deixar um enorme rastro de prejuízos.

O mais triste é saber que falta vontade política para resolver os problemas em São Paulo e no Rio de Janeiro. É obvio que todos estão sujeitos a sofrer com os fenômenos da natureza, mas nesses dois estados do Sudeste vale mais a intenção de lucrar financeiramente com os temporais. Afinal, trabalhar bem com o estado de emergência pode ser muito interessante para aqueles que nada se importam com o bem comum. A situação proporciona quantias vultuosas a fundo perdido disponibilizadas pelo governo federal e doações de todas as partes que são utilizadas para dar soluções paliativas às áreas de desastre. Outra boa parte do dinheiro sustenta a corrupção e o bem-estar daqueles que vivem em segurança e sob a proteção de um mandato.