Em meio à euforia em torno do lançamento do marco regulatório da exploração das reservas petrolíferas localizadas na camada do pré-sal, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva define como “dádiva de Deus” e “segunda independência do Brasil” e agora enviará ao Congresso Nacional, o País está diante de preocupação mais urgente, qual seja a consolidação das teses que deverá defender na Conferência Mundial do Clima. O evento foi instalado domingo em Genebra (Suíça) e deverá ser concluído no final de dezembro com um grande encontro marcado para Copenhague (Dinamarca).

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O grande desafio que os governos mundiais deverão contornar, nesse sentido, está diretamente relacionado com o custo altíssimo das providências indispensáveis para frear o processo de aquecimento global. Um dado que alimenta as atenções gerais é que o mundo deveria estar gastando, por ano, na tarefa conjunta de amenizar os impactos das mudanças do clima, o equivalente a dez vezes o orçamento dos Jogos Olímpicos de Pequim, valor situado entre US$ 400 bilhões e US$ 500 bilhões.

A revelação desafiante consta de um estudo divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU), com o objetivo de orientar o debate entre cientistas, chefes de governo e a sociedade sobre a importância vital de apressar a negociação das medidas que abram caminho para a adoção plena do acordo climático, meta primordial do encontro de Copenhague. Já se discute também a forma mais eficaz de colocar grande parte dos recursos à disposição dos países mais pobres.

O Instituto Internacional para Ambiente e Desenvolvimento, instituição particular sediada na capital inglesa, estimou que o custo total das ações preconizadas para a correção dos problemas climáticos poderá até triplicar em relação aos cálculos anteriores da ONU, porquanto esse tipo de projeção deve levar em conta períodos que se estendem por décadas. Os especialistas envolvidos no tema advertem que a questão financeira requer tratamento meticuloso a fim de chegar a Copenhague inteiramente equacionada. Atualmente existe a percepção generalizada que o custo das operações planetárias para a adaptação às alterações drásticas do clima, estimado pela ONU entre US$ 40 bilhões e US$ 170 bilhões anuais, será muito maior. Por exemplo, a União Europeia admitiu fechar com a proposta de as economias industrializadas disponibilizarem US$ 140 bilhões por ano para aliar-se ao esforço de adaptação mundial às elevações da temperatura.

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Empresas direcionadas ao atendimento de metas sociais e ambientais estão engajadas na discussão da plataforma brasileira para chegar à economia do baixo carbono, conforme a designação cunhada por cientistas e pesquisadores, além de trabalhar pela definição das normas jurídicas destinadas a estabelecer o marco regulatório das providências vindouras para formular planos de convivência com as mudanças do clima. No mês de outubro deverá ser lançado o Programa Empresas pelo Clima, portanto, às vésperas da conferência de Copenhague incumbida de produzir um documento para substituir o Protocolo de Kyoto, assinado em 1992. O grupo atua sob coordenação do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo, e está em fase de conclusão dos trabalhos.

O escopo é agrupar iniciativas empresariais na área das mudanças climáticas, sobretudo, o rol de experiências sintonizadas com o corte das emissões de gases do efeito estufa específicas dos setores do agronegócio, energia, florestas, indústria, serviços e transportes. O programa está sendo reputado como inestimável contribuição da iniciativa privada no incentivo à implantação das medidas reclamadas pela realidade ambiental e econômica, visando acima de tudo o aproveitamento racional dos recursos naturais.

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Trata-se de notável avanço das empresas que só recentemente demonstraram interesse pelas mudanças climáticas, adotando um enfoque político em relação ao assunto. Todos reconhecem que ainda resta um longo caminho a percorrer, mas todos estão convencidos de que se trata de uma corrida contra o tempo.