Degradação dos valores

O assunto saiu dos noticiários das emissoras de televisão para os jornais e para a boca do povo. Contou assim o repórter Márcio Barros na edição da última quinta-feira de O Estado: “Um vídeo de sexo entre uma menina e dois garotos, todos de 13 anos de idade, dentro do banheiro do Colégio Estadual do Paraná (CEP), foi postado na internet. Para alguns, as imagens causaram constrangimento, para outros, furor, e para a maioria dos alunos virou motivo de piada no site de relacionamento Orkut. Há alguns dias, durante a aula, os três adolescentes deixaram a sala e se encontraram no banheiro. Um dos estudantes gravou as cenas e colocou as imagens na internet. Logo em seguida, como uma febre, se espalhou livremente pelos celulares dos alunos da instituição. O vídeo já foi retirado da rede. O caso está sendo investigado pela Delegacia do Adolescente, que na tarde de ontem (quarta-feira, dia 21) informou que o processo corre em segredo de Justiça”.

Um fato aterrador, que entristeceu e constrangeu a sociedade paranaense. E, por mais que alguns possam julgar que o problema está na escola, afinal o caso ocorreu nas dependências do Colégio Estadual do Paraná. Na verdade, a crise que chega a tal ponto está nas nossas casas, nas nossas famílias, nos nossos pais e filhos. É um problema social generalizado, é a degradação dos valores.

Quando éramos mais jovens, recebíamos em casa lições claras. A maior delas era a de respeitar os mais velhos, as normas, as leis. Aprendíamos isso, levávamos para a vida toda, tentávamos transmitir às próximas gerações. Hoje, por mais que tentemos repassar valores éticos e sociais para os jovens, eles não aceitam.

Culpa deles? Em parte. Primeiro, a culpa é das famílias, que permitem o acesso ilimitado de garotos e garotas à televisão e à internet. Aí é a culpa da mídia, que não se preocupa com o crescimento intelectual do povo brasileiro, preferindo o fato espetacular, o sensacional e a frivolidade para agradar imediatamente e vencer a guerra de audiência. “Culpa” da tecnologia, que permite gravações em telefones celulares, envio direto para sites e distribuição e publicidade instantânea de qualquer arquivo deste naipe. Culpa dos agentes de educação, que não renovaram métodos hoje arcaicos, que não atraem mais a garotada. E dos jovens, principalmente dos adolescentes, que não se interessam em fugir do mundinho em que são colocados.

Todo mundo é assim? Claro que não. Há jovens realmente preocupados com o que lhes cerca, e percebem rapidamente que estão sendo transformados em autômatos da comunicação instantânea. Só que estes são cada vez mais raros na nossa sociedade. Deixamos nossas crianças presas à televisão, como “babás eletrônicas”, e agora não conseguimos tirá-las de lá. E muito menos da internet, que é a maior revolução da nossa geração, e que seduz a criançada com a possibilidade de experimentar um mundo que eles não conhecem – ou que ainda nem deveriam conhecer.

Dá nisso, em três jovens gravando um vídeo de sexo no banheiro da escola – e não é de qualquer escola, é do vetusto Colégio Estadual do Paraná, a instituição de ensino mais importante do Estado. O fato de ter sido lá é apenas um detalhe. Poderia ter sido na casa de um deles, ou mesmo em um shopping, templo sagrado da adolescência brasileira (só não é mais importante na escala de interesse que o computador, desde que este permita o acesso a MSN, Orkut, Twitter, Facebook e quetais). Foi na escola porque era o lugar mais próximo. Porque era mais simples. Porque era mais “legal”. Porque eles não estão nem aí para a escola, porque a escola não interessa mais, as aulas são chatas. E porque o ensino, infelizmente, é o que menos interessa para nossos jovens. E a culpa (também) é nossa.