Algumas coisas não passam pela cabeça de seres humanos normais. Uma delas é abandonar filhos, seja qual for a idade deles. Mesmo assim, vez por outra somos surpreendidos por notícias como a que está em destaque na edição de ontem de O Estado, da repórter Mara Andrich: “Um bebê recém-nascido foi encontrado vivo no lixo, em Cascavel, no oeste do Estado, na manhã do último domingo. A menina, que ainda estava com sinais da placenta da mãe, foi achada por uma dona de casa do bairro Presidente, que escutou os choros quando saía de casa. O bebê foi encaminhado ao Hospital Universitário (HU) da cidade, onde permanece internado sob observação, mas sem risco de morte”.
Como imaginar que, de qualquer forma, mães e pais são capazes de deixar recém-nascidos ao léu? Bebês jogados no relento, na noite fria, justamente no Dia dos Pais? É impossível admitir uma insanidade deste tamanho, é uma decisão inacreditável.
Mas existe, e como aponta a matéria, é mais comum do que podemos pensar ou conceber. Reações que transpassam a relação filial, que unem a dificuldade da vida, a tristeza de possíveis rompimentos amorosos ou a negação da criança por parte da mãe, do pai ou de outros familiares. Ou tudo isto junto, num caldo que coloca os pais como vítimas e culpados ao mesmo tempo.
Sim, porque são culpados, obviamente, pela tremenda omissão e uma quase tentativa de homicídio ao abandonarem recém-nascidos. Ao mesmo tempo, sofrem com a rejeição de uma sociedade que não permite, apesar de estarmos em 2009, relações não aceitas pela maioria, como se houvesse uma regra que definisse quem vai viver com quem.
Indefesas, as crianças são alvo da fúria e do desalento de quem as concebeu. Sofrem sem saber ainda o que está acontecendo, perdem a única coisa que têm e que precisam, que é o aconchego materno. Mas, com a sorte e com a ajuda de quem pode, elas se recuperam, e viverão sem ter o trauma deste abandono, e quem sabe tendo a alegria de ter uma família que escolha recebê-la e festeje a sua chegada.
