Debandada no PMDB

“Acabou a “janela’. Quem pretende disputar algum mandato nas eleições do ano que vem não pode mais trocar de partido ou se filiar a um, caso não tenha legenda. Para concorrer nas eleições do ano que vem, o candidato precisa estar filiado há, pelo menos, um ano no partido pelo qual disputará o pleito. Prazo que acabou ontem, pois, agora, faltam 364 dias para a eleição. (…) Dois membros do primeiro escalão do governo estadual, por exemplo, deixaram o PMDB para buscar uma legenda em que terão mais chance de eleição. Como o partido do governador Roberto Requião tem as maiores bancadas do Estado, com 18 deputados estaduais e sete deputados federais, e praticamente todos pretendem a reeleição, fica difícil um novo nome eleger-se pela sigla. Assim, o presidente do Tecpar, Aldair Rizzi, e o secretário do Meio Ambiente, Rasca Rodrigues, preferiram deixar o partido, filiando-se, respectivamente, ao PSB e ao PV”.

Esta matéria, assinada pelo repórter Roger Pereira, da edição de domingo passado de O Estado, é mais um sinal da decadência do PMDB do Paraná. Há oito anos no poder, com o governador Roberto Requião, o maior partido do Estado sofre com a falta de lideranças e com a dificuldade em atrair novos quadros. A situação fica mais dramática quando se recorda que a sigla comandou o Palácio Iguaçu em vinte dos 28 últimos anos – desde a retomada das eleições diretas para governador, em 1982, e já somando o ano de 2010, o último da “era Requião”. Sim, porque José Richa foi eleito pelo PMDB em 82, assim como Alvaro Dias em 1986. E o atual governador ganhou os seus três pleitos pelo partido (1990, 2002 e 2006).

Mas, dois destes governadores deixaram a legenda – Richa foi um dos fundadores do PSDB, onde militou até falecer, e Alvaro saiu para também integrar o ninho tucano. Chegou a peregrinar por outras siglas até voltar ao PSDB. Sobrou Requião, que aos poucos foi se afastando de todas as lideranças peemedebistas – tanto as que ajudaram no seu crescimento político, quanto aqueles que ele poderia ajudar a crescer.

Um exemplo claro é o do deputado federal Gustavo Fruet. Filho do ex-deputado e ex-prefeito de Curitiba Maurício Fruet, decisivo na vitória – surpreendente – de Requião sobre Jaime Lerner na eleição para a prefeitura da capital do Estado em 1985. Maurício, um dos políticos mais inteligentes e populares de sua geração, foi renegado e acabou deixando o PMDB junto com José Richa, quando percebeu que o jovem prefeito que havia ajudado a eleger tinha planos muito altos. E só para ele.

Da mesma forma aconteceu com o filho Gustavo. Figura ascendente do PMDB, com eleições consistentes para a Câmara de Vereadores de Curitiba, a Assembleia Legislativa do Paraná e a Câmara Federal, ele era um nome bastante interessante do partido na eleição para a prefeitura da capital em 2004. Poderia, inclusive – e veja como são as coisas – ter sido um grande contendor de Beto Richa (PSDB), eleito naquele ano e reeleito ano passado. Mas Requião, já governador, impediu que Gustavo Fruet saísse candidato, impondo a aliança com o PT, que acabou derrotada. O deputado federal, sem espaço no partido, acabou indo para o PSDB.

Fato que se repete agora com nomes importantes da vida pública paranaense, mas subalternos dentro do próprio PMDB, como o deputado estadual Mauro Moraes (que foi para o PSDB), o secretário Rasca Rodrigues e o presidente do Tecpar Aldair Rizzi. O que a cada dia fica mais claro é que Requião está mais preocupado com a própria eleição ao Senado em 2010 e em “inventar” uma nova liderança, o seu sobrinho João Arruda.

Sobra uma constatação latente: quando estes políticos saltam do barco do maior partido do Paraná, é porque a casa, que já parecia meio deteriorada, realmente está caindo.