De olho em 2010

Primeiro, Antônio Palocci. Formulador do plano de economia do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, fundamental na vitória do presidente e no início do governo, quando era necessário um “choque de credibilidade” para o mercado internacional. Tinha potencial para durar os oito anos da era Lula, e sair dela como um fortíssimo candidato à presidência da República. Uma mal explicada história de tráfico de influências e o assédio a um jardineiro levaram Palocci a ser pressionado até pedir demissão do ministério da Fazenda.

Depois, Delúbio Soares. Aos poucos, ele ganhou espaço na estrutura do PT, conquistando apoios e amizades. Chegou a ser o todo poderoso tesoureiro do partido, elemento decisivo nas campanhas nacionais, estaduais e principalmente nas municipais. Adquiriu fama, virou “condestável” da República. Mas os conchavos foram maiores que as vantagens, e o escândalo do mensalão acabou vitimando-o em pleno voo.

Hoje, Antônio Palocci e Delúbio Soares voltaram às manchetes. Os dois tentam voltar ao centro da política, ainda pelo PT, e contando com o apoio (mais ou menos ostensivo) do presidente Lula.

Palocci, eleito deputado federal em 2006, passou por apertos até a semana retrasada, quando, enfim, seu caso de quebra de sigilo bancário do jardineiro Francenildo dos Santos Costa foi julgado no Supremo Tribunal Federal (STF). Absolvido, passou a projetar seu futuro. Na edição de domingo, O Estado tratou do ex-ministro: “Com o apoio de deputados do PT paulista, Palocci encomendou nova pesquisa – feita com grupos de eleitores das classes C, D e E, em várias cidades do Estado – para medir o tamanho de sua popularidade e também da rejeição, além do desempenho de seus adversários diretos. (…) Na sexta-feira, o deputado fez mais um gesto político e conversou, em São Paulo, com o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que ainda tem forte influência no PT e atua como articulador político informal do Planalto”.

A candidatura de Palocci ao governo de São Paulo é tratada como decidida até por quem teoricamente poderia postular a mesma posição. A ex-prefeita da capital paulista Marta Suplicy já avisou que desiste da pré-candidatura em nome do ex-ministro da Fazenda. Todos no PT acreditam que só ele poderia enfrentar o favoritíssimo Geraldo Alckmin (PSDB), que também conta com o apoio dos populares José Serra (PSDB, governador do Estado) e Gilberto Kassab (DEM, prefeito de São Paulo).

Para vencer, entretanto, seria preciso uma campanha “perfeita”, o apoio ostensivo de Lula (que está louco para entrar na briga) e o crescimento nas pesquisas da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, candidata petista à presidência. Levando o pleito para o segundo turno, Palocci pode até surpreender.

Já Delúbio Soares é um caso diferente. Como quem não quer nada, talvez contando com a notória falta de memória dos brasileiros, o ex-tesoureiro do PT está montando uma estrutura para sair candidato a deputado federal por Goiás. Lançou (com a ajuda da Central Única dos Trabalhadores -CUT – goiana) uma revista, criou um site que divulga seus feitos – com o nome de “companheiro Delúbio” – e manda para uma lista de e-mails um comentário mensal.

Com a mesma tese de Palocci (mas sem o mesmo apoio, nem de Lula nem do comando do PT), Delúbio aposta numa onda favorável à Dilma para chegar à Câmara dos Deputados. O incrível é que ele estará na chapa de um dos nomes mais importantes do governo, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, exemplo de discrição e de trabalho nos sete anos de Lula no Palácio do Planalto. O ex-tesoureiro terá nas urnas o julgamento que não teve na justiça. O resultado pode ser consagrador – para ele, ou para a democracia.

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