Havia tempo que isso não acontecia. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, chegou a Brasília no domingo e na segunda-feira estava perfilado ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante o desfile alusivo ao Dia da Independência. Sem a companhia da esposa, a modelo e cantora Carla Bruni, Sarkozy parecia gostar da festança, conversando animadamente com Lula, com a primeira-dama Marisa Letícia e com o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes (este com aquela cara habitual de poucos amigos).

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Não haveria motivos para o presidente da França se desabalar da Europa para ver o desfile de 7 de Setembro – apesar deste 2009 ser o “Ano da França no Brasil”, com centenas de eventos culturais que reúnem o que de melhor os dois países têm. Mas Nicolas Sarkozy veio ao Brasil para negociar. Há muito dinheiro em jogo, e tanto o líder francês quanto Lula queriam terminar o feriadão brasileiro festejando bons negócios. Diga-se: a maioria deles envolve a área da defesa. Caças franceses virão para o Brasil, helicópteros e submarinos convencionais serão fabricados com selo tupiniquim para a terra de Napoleão Bonaparte. Sem contar a possibilidade de construção conjunta de submarinos nucleares. Oficialmente, isto se chama “acordo estratégico entre os dois países e concretização de compromissos de transferência de tecnologia militar”, como apontou a imprensa especializada.

O presidente Lula ficou eufórico com a aproximação – surpreendente para quem tem assessores que não gostavam do presidente francês, por ele ser “de direita”. A exaltação ao acordo veio em discurso: “Essa parceria estratégica em defesa tem um valor extraordinário quando percebemos o que podemos construir juntos o que precisamos. Hoje, não é apenas o dia da Independência do Brasil, hoje é um dia que acabamos de consolidar essa parceria estratégica com a França e agora só temos uma palavra para dizer aos nossos ministros: trabalho, trabalho e trabalho”, afirmou o presidente, ainda na segunda-feira.

A presença de Sarkozy, as conversas que ele teve com Lula, os acordos feitos e os futuros projetos (ponte até a Guiana Francesa, construção do Veículo Leve sobre Trilhos) são importantes. Mas, o mais importante ainda é a manifestação do presidente francês, que se posiciona claramente em favor do Brasil no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), afirma que vai apoiar as ideias de Lula no G20 (grupo que reúne os países ricos e os em via de desenvolvimento) e que os dois países terão um plano conjunto para apresentar na conferência sobre as mudanças climáticas, que acontece em dezembro, na Dinamarca.

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O Brasil precisava de um apoio mais declarado para chegar com mais força na reunião do G20, em Pittsburgh, nos Estados Unidos. O País já é a “estrela da companhia” entre os países emergentes por conta da descoberta de petróleo na camada pré-sal. Agora, referendado por um dos líderes mais importantes do planeta (seja de “esquerda” ou de “direita”), Lula poderá sair do posto de simpático para entrar como um verdadeiro “player” do jogo global.

É o momento ideal. Não só o Brasil foi pouco afetado pela crise financeira internacional, como também já saiu da área de risco, enquanto Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Japão, Canadá, Itália, Rússia e a própria França ainda patinam na lama de dificuldades econômicas. Como a China joga sozinha, o Brasil – e o presidente Lula aí sim tem que aproveitar seu carisma – pode virar o líder dos países em desenvolvimento. É quem achou a “galinha dos ovos de ouro”, sempre imaginando que o pré-sal será o que os políticos e os técnicos da Petrobras apostam que ele será. Respaldado por uma das consideradas potências, chegou a hora do Brasil dar o salto qualitativo em suas relações exteriores, pouco antes de, como promete o presidente, entrar em definitivo na rota do desenvolvimento sustentado e constante.

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