Para alguns políticos, o objetivo é chegar ao poder. Instalado, o mais importante não é governar ou liderar os destinos da população, e sim acertar a vida de todos os aliados com um ou outro cargo na administração pública. A situação faz com que se corra o grande risco de que cargos técnicos sejam ocupados por políticos, que geralmente não têm o preparo ou o conhecimento fundamental para administrar uma autarquia, um ministério, um instituto ou uma secretaria.

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O governador eleito Beto Richa está conseguindo colocar, como “cota pessoal”, alguns administradores de longa data em locais importantes. É o caso do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), que passará a ser presidido por Tarcísio Mossato Pinto a partir de 1.º de janeiro de 2011. Funcionário de carreira, ele terá um grande desafio, que é o de conciliar o desenvolvimento do Estado com uma política de meio ambiente que não agrida o já combalido ecossistema da região.

Sobre isto, ele conversou com a repórter Luciana Cristo na entrevista publicada na edição de domingo de O Estado: “A instituição tem que passar por um choque de gestão. Hoje existem inúmeros processos paralisados e a comunidade tem que ter resposta do órgão ambiental. A demanda de processos surge das próprias dificuldades do órgão e deficiências físicas que hoje enfrenta. Vou fazer um trabalho voltado para uma gestão ambiental, dar um novo visual ao IAP. A instituição tem que buscar a descentralização principalmente de pequenos licenciamentos ambientais, porque a demanda está muito grande, aí começa a analisar pequenos licenciamentos e atrasa os grandes. Vou sentar com a direção e o governador para ver de que forma pode ser feito isso. (…) Não vou prometer que tudo o que for pedido vai ser liberado, mas é possível que as duas questões caminhem junto”.

Uma pretensa dicotomia entre o desenvolvimento econômico e o respeito ao meio ambiente foi muito incensada nos últimos anos. Veio, a rigor, dentro de uma série de críticas feitas ao governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Na “era Lula”, que termina ao final do mês, houve avanços mais significativos, mas entraves – como a demora para que se autorize definitivamente a construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará – acabam gerando ainda muita desconfiança.

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Isto porque nenhum investidor estrangeiro vai colocar seu dinheiro no Brasil se o seu projeto não tiver tramitação imediata na esfera pública -e mais, não vai deixar o dinheiro parado se as autorizações para a obra empacarem. É natural que os grandes investidores do planeta exijam métodos de construção sustentáveis, e não colocarão seu nome (e seus dólares) em planos que destruam a flora e a fauna do País. Não pegaria bem, um gasto não justificaria as perdas posteriores. Ao mesmo tempo, é necessário ter cuidado na liberação das licenças ambientais, pois o que acontecer de errado em uma construção distante dos grandes centros terão reflexo direto em toda a região.

A linha tênue entre permissividade excessiva e excesso de zelo norteia a tarefa do novo presidente do IAP. Que Tarcísio Mossato Pinto tenha a segurança técnica de dar rapidez aos processos de licença ambiental sem correr o risco de que o ecossistema seja prejudicado. Atingir êxito nesta difícil missão poderá fazer dele, um funcionário de carreira, uma das estrelas do novo governo do Paraná. E mostrará que Beto Richa fez a escolha certa ao optar por um técnico em um posto tão importante – reduzindo o perfil político do secretariado, mas pensando no bem dos paranaenses.

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