Combustível para polêmica

A semana passada foi marcada por várias notícias que preocuparam os investidores em etanol. Primeiro, o sucesso comercial e popular do pré-sal, o petróleo abaixo da camada de sal no mar encontrado pela Petrobras. Depois, um estudo do ministério do Meio Ambiente que apontou que os carros movidos a álcool poluem mais que os carros a gasolina – estudo que está sendo contestado pela entidade que reúne os principais produtores brasileiros de cana-de-açúcar.

Daí a preocupação generalizada, ressaltada por matéria de O Estado de S. Paulo: “Os usineiros querem que o governo defina claramente qual é a política pública no País para o setor de combustíveis para evitar experiências como a do Programa Brasileiro do Álcool (Proálcool), que nasceu, cresceu e foi morto ao sabor das cotações internacionais de petróleo. Eles temem que as atenções voltadas ao petróleo acabem levando o etanol a perder espaço no mercado local e visibilidade internacional, num momento em que lutam para transformá-lo num produto de exportação. Até a descoberta do petróleo da camada pré-sal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vinha projetando no exterior a imagem do Brasil como o país que iria fornecer energia renovável para o mundo”.

Esta discussão é, na verdade, combustível para muita polêmica. É inegável o fato de que a descoberta de petróleo na camada pré-sal pode representar uma transformação econômica para o Brasil. Até por isso, tal descoberta é valorizada pelo governo federal, que usa o assunto como prova de que tudo vai muito bem, obrigado, e também para cacifar a candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à presidência da República. Afinal, usando o pensamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é preciso que haja alguém para continuar o projeto de nação – quem melhor para cuidar do pré-sal e do País senão Dilma?

Envolvidos com a empolgante saga petrolífera, os políticos realmente esqueceram do álcool. E é incrível, pois até há pouco o Brasil brigava ferrenhamente com os Estados Unidos para que o etanol da cana-de-açúcar fosse difundido em todo o planeta, e não o de milho. Afinal, somos nós os detentores da tecnologia que transforma a cana em combustível, somos o País que “inventou” os carros flex, ou bicombustíveis. E era o etanol, segundo o próprio Lula, que serviria para beneficiar os países pobres ou em desenvolvimento, que teriam condições de vender combustível “limpo” e, com isso, ganhar dinheiro que permitiria a diminuição das desigualdades.

Agora, no entanto, o etanol saiu do foco, e ainda recebeu um duro golpe com o estudo do ministério do Meio Ambiente. Sim, porque se nem menos poluente o álcool é (ou seria), por que se investir nele? Daí a tremenda preocupação da União da Indústria de Cana-de-Açúcar em defender o combustível.

O que acontece é um interesse – talvez exagerado – do poder central nos benefícios do pré-sal para o Brasil. O que se esquece é que todo esse maná prometido e alardeado por Lula não é para agora, é para médio prazo. Até chegarmos a essa “nova era”, precisamos olhar para o que temos em mãos.

Neste momento, o álcool é a opção mais barata para os consumidores. E é a opção que o Brasil tem para não ficar refém exclusivo do petróleo. Portanto, os gestores de energia precisam manter firme o projeto do etanol, pois nele está calcada boa parte da nossa cadeia de produção industrial. Não são só os carros, na verdade o produto final. Mas, sim, toda uma série de produtos que dependem da continuidade do etanol como combustível. Esta é uma ação que precisa partir do governo federal – mostrar que, apesar da euforia do pré-sal, o País precisa do etanol para, literalmente, continuar rodando.