Ciclo promissor

O saldo negativo do balanço de pagamentos calculado pelo Banco Central (BC), em julho, foi de US$ 1,665 bilhão, algo além do dobro esperado pelas autoridades monetárias do País. As causas estão na recuperação da atividade econômica e na valorização da taxa de câmbio, fatores que contribuíram para a elevação do déficit em conta corrente acima da projeção feita pelo Banco Central, pelo segundo mês consecutivo. Apesar das preocupações naturais, os déficits mensais ainda são inferiores aos registrados em períodos iguais do ano passado.

Não há nenhum desastre a lamentar, segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, para quem “o déficit está na trajetória esperada”, à vista da acentuada acomodação verificada nos primeiros três meses do ano “quando a atividade econômica estava mais fraca, e tende a aumentar a partir de agora com a recuperação da economia”. Em julho do ano passado, o resultado negativo havia sido de US$ 2,168 bilhões, de modo que o déficit acumulado entrou numa trajetória descendente passando de 1,37% para 1,35% do Produto Interno Bruto (PIB) entre os meses de junho e julho. Há um ano, o déficit chegou a 1,8% do PIB.

Em caso de acerto do prognóstico das autoridades monetárias o déficit esperado para agosto será de US$ 1,6 bilhão, fazendo com que o acumulado de 12 meses suba um pouco mais. O déficit em conta corrente, explicam os analistas de mercado, sempre anda colado ao nível da atividade econômica dadas as recentes mudanças estruturais no passivo externo líquido, ou seja, o parâmetro que mede os capitais estrangeiros aplicados na economia interna.

Segundo o jornal Valor Econômico informava na edição de ontem “antes, o passivo era formado, sobretudo, pela dívida externa, que exige pagamentos de juros aos credores externos independentemente do ciclo econômico. Agora, a maior parte do passivo externo é formada por investimentos estrangeiros diretos e em ações, que pagam menos dividendos nas recessões e remetem mais quando a economia entra em expansão”.

Os investimentos diretos em ações e títulos públicos continuam puxando a fila da entrada de capitais estrangeiros na economia brasileira, de acordo com as estatísticas divulgadas pelo Banco Central. As captações de médio e longo prazo realizadas por empresas brasileiras estão sendo beneficiadas pela recuperação dos mercados de capitais. Até o dia 25 de agosto, investimentos estrangeiros na aquisição de ações de empresas nacionais somaram US$ 3,107 bilhões, dando prosseguimento ao cenário favorável de julho que assinalou um fluxo líquido de entradas da ordem de US$ 6,706 bilhões.

Enquanto o ingresso de capitais estrangeiros na economia interna continua a ser estimulado pelos altos juros básicos vigentes no País, o Banco Central anunciou que as empresas transnacionais brasileiras repatriaram em julho cerca de US$ 3,577 bilhões em investimentos diretos que estavam aplicados no exterior. Até o final da terceira semana de agosto, o retorno de capitais brasileiros chegou a US$ 1,2 bilhão, contabilizando o acumulado do ano em US$ 6,6 bilhões. A volta desses capitais é um reflexo das perspectivas de lucros menores no mercado externo, em face das dificuldades ainda não inteiramente superadas da crise financeira global. Por outro lado, os economistas sustentam que o movimento de capitais é um dos resultados da recente liberação cambial que permitiu às empresas maior facilidade na gestão financeira destinada ao pagamento das atividades de exportação e importação.

Desde março do ano passado, as empresas nacionais haviam sido autorizadas pelo Banco Central a manter no exterior o total da receita apurada com as exportações. Não há dados disponíveis sobre quanto dinheiro as empresas tinham no exterior, mas o BC estima um valor aproximado de US$ 17,185 bilhões. Enfim, o panorama geral mostra uma tendência clara de melhoria das condições econômicas tanto no Brasil quanto nos países industrializados e emergentes, abrindo uma perspectiva promissora para o encerramento do exercício atual.

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