Chato, sim senhor!

Curitibano, definitivamente, não gosta de Carnaval. Nesta época do ano sua fama de chato aflora. Por décadas a folia das Araucárias se resumia a clubes. Desde os grã-finos até os mais populares. A porta fechada, pra ninguém ver. Além da turma, é claro. Contava-se em relatório de papel o número de foliões. A maioria desses recintos faliu.

Nas ruas, sempre aquela coisa chinfrim. Gostem ou não, comparando com qualquer cidade de maior tradição, é assim que as plumas curitibanas sempre puderam ser avaliadas. Somos chatos. Eu, inclusive. Marchinha, esquindô lelê, axé, Deus me livre!

Os ritmos de Momo, diga-se de passagem, perderam de goleada no festerê da Marechal. Com embalos tradicionais, foram 10 mil pessoas no primeiro domingo de pré-Carnaval. No segundo, com batidão eletrônico, 80 mil.

Mas, independente do som nas caixas, curitibano não é fã de Carnaval. É chato! Não gosta de música nas alturas, abusos de qualquer natureza. Ruas sujas e urinadas. Tubão de mão em mão e fumacê inebriando mentes e dementes. Desse jeito não tem mesmo como apreciar folia carnavalesca.

É claro que não se pode generalizar, tampouco estimular a discriminação. Ir e vir são direitos constitucionais. Mas como bater palma pra quem transforma alegria coletiva em bebedeira e drogadição? Quem tem o hábito de frequentar a área central da cidade sabe que não é mais preciso aglomeração popular ou qualquer pudor pra alguém queimar uma erva em via pública. Beber, então…

As pessoas precisam entender que seu direito termina onde começa o do outro. Poderíamos estar aqui falando que Curitiba mudou, que está se abrindo para as manifestações populares. Mas desse jeito, não. Melhor continuar fechada, cinzenta e chata. Fazendo jus à fama. Carnaval por aqui, nem na televisão. Sem tubão!

Rafael Tavares de Mello é jornalista.

rafaelt@tribunadoparana.com.br

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