A notícia foi destacada na edição de domingo de O Estado, em matéria da repórter Magaléa Mazziotti: “Um número muito próximo a 200 mil veículos vendidos será a marca que o setor automotivo paranaense alcançará até o último dia deste ano, um recorde para o setor. As vendas da primeira quinzena de dezembro vêm demonstrando um fôlego maior do que o esperado pelo setor, principalmente após o anúncio do Banco Central das medidas de arrocho na oferta de crédito. O fim da opção de financiar 100% do valor de parcelamentos de longo prazo motivou milhares de consumidores a anteciparem a compra ou troca dos veículos antes da virada do ano. Há concessionárias em Curitiba que já venderam 45% a mais do que todo o mês de novembro, que também foi bom (15% de aumento). O clima de euforia fez a Federação Nacional das Distribuidoras de Veículos Automotores, regional Paraná (Fenabrave-PR) apostar em um novo percentual de ampliação nas vendas deste ano. Para o diretor-geral da Fenabrave-PR, Luís Antônio Sebben, o crescimento das vendas de veículos em 2010 deve passar dos 6% estimados em novembro, para uma variação próxima a 8%”.
Há, realmente, uma correria às lojas. Carros sobram nas concessionárias, nas lojas de usados e também nas ruas. O que acontece hoje não é apenas a simples substituição dos veículos mais antigos pelos mais novos, e sim a ampliação da frota familiar. O que antes parecia ser um exagero de alguns pais abastados virou realidade – muitos jovens com 18 anos recém-completados estão ganhando um carro de presente de aniversário. Assim, cada casa não tem apenas um automóvel, tem dois (o do marido e o da esposa) ou mesmo três (o do filho ou filha). E as ruas vão ficando intransitáveis.
Antes de retomarmos o assunto trânsito, é inevitável tratar do aquecimento do setor – que não está apenas na compra e venda de veículos, mas também nos acessórios, nas autopeças e outros setores afins. A indústria e o comércio automotivos estão em euforia desde pelo menos o início de 2009, quando as medidas do governo federal para conter a crise financeira internacional permitiram que os carros fossem comprados por valores mais atrativos, com linhas de crédito camaradas e menos tempo de financiamento. Foi tanto carro vendido que o Banco Central teve que se mexer no mês passado, alterando as regras do crédito para dar uma acalmada nas vendas.
Só que o reflexo de tantos automóveis vendidos (o que, registre-se, é ótimo) está nas ruas de Curitiba e das outras grandes cidades do Paraná. Até em horários normalmente calmos, como o meio da tarde, as ruas centrais estão intransitáveis. Em dias de chuva, como na semana passada, sair do centro e ir para os bairros era uma tarefa para cidadãos pacientes e com tempo (se alguém tinha horário marcado em médico, dentista, academia ou mesmo no trabalho, o melhor era esquecer). Ainda mais em dezembro, com todo mundo atrás dos presentes de Natal.
É uma espécie de “caos terrestre”, com as ruas tomadas pelos automóveis, uma sinfonia de buzinas e motoristas à beira de um ataque de nervos. E o que é preciso ter em mente é que o aquecimento na venda de carros só tende a piorar o cenário nas grandes cidades. Portanto, as autoridades públicas precisam focar seus esforços na criação de uma engenharia de tráfego, que consiga organizar o trânsito e evitar que engarrafamentos desnecessários aconteçam em horários imprevistos.