Caos do porto

O físico e matemático inglês Isaac Newton orientou, ao formular sua terceira lei, que toda a ação provoca uma reação de igual intensidade, na mesma direção e em sentido contrário. O princípio da ação e reação é claro, não deixa dúvida. O que faz, então, homens públicos, gestores de empresas estatais e autarquias mal-intencionados duvidarem do dogma científico? A resposta é fácil. É a sensação de impunidade. E durante anos, a regra beneficiava os criminosos do “colarinho branco”. Pintavam e bordavam e nada acontecia. Mas, para o bem da sociedade brasileira, os casos de crimes praticados na esfera da administração pública hoje são alvo de operação policial e os culpados acabam invariavelmente punidos. Sinal dos tempos. De tempos melhores.

Hoje, a ação de corrupção e assalto aos cofres públicos recebe a devida reação das autoridades. Exemplo capital foi dado ontem. Em operação conjunta, batizada de Dallas, Receita Federal, Polícia Federal e o Ministério Público Federal enviaram agentes ao Porto de Paranaguá com o objetivo de desmantelar uma quadrilha responsável pelo desvio de cargas destinadas à exportação e apurar fatos relacionados a fraudes em licitações e favorecimento de empresas responsáveis pela retirada de resíduos do terminal portuário paranaense. Durante os quase oito anos de mandato do ex-governador e atual senador Roberto Requião (PMDB), o porto que um dia foi referência nacional se transformou em logradouro de foras-da-lei. Gente que ocupou postos de gerência e que, com o respaldo do ex-chefe do Executivo estadual, agiu para acumular riquezas de forma ilícita, denegrindo a imagem da própria Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) e da grande maioria de colaboradores honestos ligados à instituição.

Além do total e completo desleixo com a gestão do terminal, não foram poucas as denúncias e suspeitas de corrupção suscitadas durante os últimos anos. Da falta de dragagem do Canal da Galheta, passando pelo descaso com Antonina e seu porto e chegando à tentativa de compra superfaturada de uma draga chinesa, Requião só fez prejudicar a maior fonte de renda do litoral do Paraná. O resultado desse trabalho de desconstrução, de absorção vergonhosa de recursos públicos e de achaque de setores da iniciativa privada chama-se Dallas.

Não há como desvincular o senador peemedebista e seu irmão, Eduardo Requião, dos delitos praticados no porto. Eduardo foi superintendente da Appa e entre os presos na operação está outro ex-superintendente da entidade, Daniel Lúcio de Oliveira de Souza, que assumiu o cargo em outubro de 2008, após a saída do irmão do parente do ex-governador. Souza sempre esteve ligado à família Requião, pois antes de ocupar o cargo máximo da administração do terminal, foi diretor administrativo e financeiro. Juntos praticaram desvios de cargas que podem chegar a dez mil toneladas de produtos por ano, dentre eles soja, farelo, milho, açúcar e trigo.

O que motivou as investigações contra a alta cúpula do último governo paranaense foram reclamações feitas à Receita Federal por exportadores, que sentiram falta de parte de sua carga nos embarques em navios graneleiros. Além do crime, o fato destruiu a imagem do Porto de Paranaguá no exterior. Fica fácil entender o aumento de movimento nos terminais catarinenses durante a gestão de Requião.

A operação Dallas deve ser só o estopim para que outros misteriosos casos de corrupção explícita sejam desvendados. A investigação não pode parar. Tem que ir a fundo e fornecer subsídios necessários para que a Justiça condene os envolvidos nos crimes. A máscara caiu e o demagogo está exposto. Que seja o seu fim.