Candidato sim

Luiz Inácio Lula da Silva está promovendo o mais festivo final de mandato da política republicana. Só faltará um “baile da Ilha Fiscal” para completar a comemoração. Ele tem seus motivos: está com a popularidade em níveis estratosféricos há pelo menos quatro anos, elegeu a sucessora e ainda tem uma dezena de obras a serem inauguradas até o dia 31. Termina sua passagem de oito anos pela presidência da República como o político mais popular da história – e, para muitos, como o maior presidente que o País já teve.

Lula tem uma capacidade gigantesca de aglutinação. Nunca antes na história deste País houve uma conjunção tão grande de forças em uma eleição como a aliança que levou Dilma Rousseff ao Planalto. E a vitória nas urnas só não foi espetacular porque o principal partido de oposição, o PSDB, elegeu governadores em estados de grande população e de economia forte (São Paulo, Minas Gerais e Paraná). Mesmo assim, o triunfo lulista foi incontestável. Tanto que permite as mais diversas elucubrações.

Uma delas partiu do próprio presidente, como apontou o jornal O Estado de S. Paulo: “O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não descarta a possibilidade de disputar mais uma vez a Presidência da República. Questionado no programa É Notícia, da RedeTV, se voltaria a enfrentar as urnas para ocupar de novo o Palácio do Planalto, Lula respondeu: “Eu não posso dizer que não porque eu sou vivo, sou presidente de honra de um partido (referindo-se ao PT), sou um político nato e construí uma relação política extraordinária’. (…) Após falar da possibilidade de disputar mais uma eleição presidencial, Lula afirmou: “Eu fico até com medo. Amanhã alguém vai assistir a tua entrevista e dizer que Lula diz que pode ser candidato’. O presidente disse que o País tem “uma gama de líderes extraordinários’, citando a presidente Dilma, os governadores de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), da Bahia, Jaques Wagner (PT), do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), o senador eleito pelo PSDB de Minas Gerais, Aécio Neves, e o presidenciável derrotado José Serra (PSDB)”.

O presidente é um personagem especial. Tudo que falou no programa da RedeTV foi de caso pensado. A entrevista foi para o jornalista Kennedy Alencar, que também é da Folha de S. Paulo, jornal hoje odiado pelos petistas. Lula sabia que uma declaração deste porte seria repercutida com muita força pelos veículos de comunicação. Nem pode reclamar pois na própria conversa ele já falava sobre a repercussão. E mesmo assim falou que pode ser candidato – e se for, será em 2014, ele e a presidente eleita Dilma Rousseff sabem disso.

Lula criou, por vontade própria, uma sombra para a presidente e para seu governo. Deixou aberta a possibilidade de candidatura porque, de um lado, quer manter o PT em evidência, e de outro quer evitar avanços da oposição. Sendo um potencial candidato, o presidente deixa nas entrelinhas que está pronto para ser o “salvador da pátria”, caso Dilma fracasse nos primeiros anos de mandato. E, ao mesmo tempo, deixa o próprio nome no jogo para, caso necessário, ser descartado e transferir popularidade – de novo – para Dilma.

E mais: se depender apenas dele, Luiz Inácio Lula da Silva, ele é candidato sim à presidência da República. Messiânico como ele só, o presidente acha que ninguém mais pode resolver os problemas do Brasil. Nem mesmo a candidata que ele escolheu e que ajudou a eleger. Se for preciso, ou se der vontade, o nome, o número e a foto de Lula estarão nas urnas eletrônicas no dia 5 de outubro de 2014.

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