Campeão de processos

O ano termina e o governador do Paraná está empolgado. Roberto Requião (PMDB) acredita que pode levar adiante seu projeto brancaleônico de ser candidato à presidência da República, mesmo que esteja sendo tratado como um “marionete” de Orestes Quércia no resto do País. No nosso Estado, enquanto isso, as projeções para a eleição de 3 de outubro de 2010 passam pelo atual estágio financeiro paranaense. E as informações não são nada boas.

Apesar da boa arrecadação e do crescimento global da economia, o Paraná terá problemas nos anos vindouros. É o que aponta a matéria do repórter Leonardo Coleto, na edição de domingo de O Estado: “No próximo ano, Roberto Requião encerrará seu terceiro mandato como governador do Paraná. Ao longo de sua administração, segundo dados da Justiça Estadual e Federal, acumulou 369 processos judiciais. Alguns deles já foram encerrados e outros permanecem em andamento, mas a estimativa é que todas essas ações gerem indenizações e dívidas que ultrapassam R$ 1 bilhão. Ao encerrar seu mandato, Requião deixará esse passivo ao próximo ocupante de sua cadeira no Palácio das Araucárias. (…) Mas Requião também levará algumas dívidas quando deixar o governo. São condenações pessoais, como no caso das ações por danos morais movidas pelo advogado Cid Campelo, secretário de Governo de Jaime Lerner, que cobra cerca de R$ 300 mil em indenizações. Requião, ao assumir o governo em 2003, pediu a prisão de Campelo. Hoje o advogado move cerca de 50 ações contra o governador, questionando, inclusive, as nomeações de seus parentes para cargos do primeiro escalão do governo estadual. Requião também já deve R$ 850 mil em multas à Justiça Federal pelo uso indevido da Rádio e Televisão Educativa do Paraná”.

Dois pontos precisam ser trazidos à luz. O primeiro é o que Roberto Requião criou para si próprio nestes últimos sete anos. Se ele cometeu erros, se perseguiu pessoas e se usou da máquina pública para tentar prejudicar empresas, empresários e políticos, ele terá que pagar sim. Está sendo processado e responderá pelo que fez – principalmente pelo fato de ter se aproveitado do cargo que ocupa, o mais alto do Estado, para promover tal desordem institucional.

Agora, o problema do Paraná. A conta feita pelo repórter de O Estado, baseada nas informações da Justiça, engloba os três mandatos de Roberto Requião, inclusive com os quase três anos desta última gestão. Em onze anos, portanto (pouco menos, pois deixou o governo em 1994 para se candidatar a senador), o governador teve sua administração questionada quase quatrocentas vezes. Mais de 33 processos por ano, quase três por mês, um a cada dez dias. E tudo isso gerando um possível custo de um bilhão de reais para os cofres públicos.

É impossível imaginar o impacto que uma série de decisões judiciais em cascata podem promover nas contas públicas do Paraná. Certo é que será um impacto desastroso, que poderia impedir, inclusive, o Estado de crescer em determinado período – justamente no momento em que o Brasil voltou a crescer em ritmo acelerado, e que todos entram de roldão neste embalo do País.

E o futuro governador, seja quem for, será o responsável por administrar este baita abacaxi. Os planos que vários especialistas estão fazendo podem ir por água abaixo antes mesmo de serem colocados para a população durante o debate político da eleição de 2010. E qual seria a culpa de Beto Richa, Osmar Dias, Alvaro Dias, Jorge Samek ou mesmo Orlando Pessuti nesta história toda? Nenhuma, ou a mínima possível. Já Requião, o governador dos 369 processos, espera estar no Senado, com a imunidade parlamentar, enquanto o circo pega fogo.