Brasil em segundo plano

Falta vergonha na cara aos homens públicos e aos partidos políticos brasileiros. Não à toa, a classe e as legendas estão em baixa com a sociedade. Aprontam feito crianças mimadas e não medem esforços para abocanhar gordas fatias do dinheiro público que deveria custear os planos do Estado para melhor atender as necessidades da população. As ações espúrias ficam mais em evidência na época que marca o início dos mandatos. O Brasil fica em segundo plano quando o interesse maior é garantir espaço dentro da estrutura de governo.

A situação descrita serve de prólogo perfeito dos primeiro dias de Dilma Rousseff à frente da presidência da República. E o problema está sendo é causado não por aliados de pequena grandeza, mas pela sigla comandada pelo vice-presidente Michel Temer, o PMDB, que anda descontente com a divisão de cargos no governo federal e esperneia por mais vagas. Logo os peemedebistas, aliados de primeira hora, causando tamanho desgaste político antes mesmo da nova chefe do Poder Executivo se acomodar em sua cadeira.

O PMDB vem usando de chantagem para conseguir divisão igual do poder com o PT, partido de Dilma. Também dizem os que fazem parte do time de Temer que não aceitam ficar de fora das reuniões de decisão feitas no Palácio do Planalto e que querem estar em todos os conselhos políticos de assessoria da presidente. E como jogam sujo os peemedebistas! Chegaram a prometer reação ao anúncio do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de vetar emendas parlamentares propondo valor do salário mínimo acima dos R$ 540 fixados em Medida Provisória ainda na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva. Diga-se de passagem que a decisão contou com o consentimento da então candidata a presidente. O partido já havia até anunciado que o deputado Eduardo Cunha, da bancada do PMDB do Rio de Janeiro, iria apresentar uma emenda passando o valor do mínimo para R$ 560.

A pergunta quase inevitável é: Dilma Rousseff e o PT não conheciam o modo de atuar do PMDB? A resposta é: não existe a possibilidade de alguém que minimamente conheça, leia ou se informe sobre os rumos da política brasileira não saiba dos reais interesses dos peemedebistas, a ponto de o partido ser chamado pelo deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) de “ajuntamento de assaltantes”. Há muito tempo, a sigla, que no passado reuniu expoentes da vida pública nacional em torno do plano de restabelecer a democracia, passou a se preocupar só em estar perto do poder e gozar das benesses que o mesmo proporciona. Ocupar cargos não é somente sinal de prestígio, mas de dinheiro nos cofres do partido. Afinal, quem ocupa essas vagas por indicação política deve encaminhar parte do salário à legenda. É o preço que se paga para participar do jogo do poder.

Outro ponto em que Dilma e os petistas devem estar atentos é a ambiguidade do vice. No mínimo é intrigante. Temer, que prometeu deixar a direção do PMDB assim que tomasse posse, ainda não o fez. Ele apenas se licenciou por quatro meses e continua agindo como presidente do partido, abrigando, inclusive, reunião em seu apartamento para discussão do aumento do valor do salário mínimo. Suas atitudes e postura são incompatíveis com o cargo que hoje ocupa.

A briga por vagas ultrapassou os limites morais. Não é possível suportar que partidos promovam o loteamento dos cargos públicos para atender aliados de ocasião. O trato da administração pública exige profissionalismo e capacidade técnica e a política deve ser deixada de lado. Ou o Brasil nunca terá jeito.

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