Alguém tem dúvidas de que o Brasil está mudando? Parece que nossos servidores públicos de alto coturno teimam provocar o tema e seguem sendo atropelados por uma maré de realidade. Alguns ainda se acham intocáveis. Ao gosto do poder Judiciário, que mais se alinha a uma caixinha de surpresas.
A queda do ex-governador Beto Richa se configura como uma das maiores derrocadas de uma carreira política da história paranaense. Não caiu sozinho. Levou junto esposa, irmão, primo e “assessores de pele”, tipo unha e carne. Uma avalanche. Não há santo nessa história.
Agonia
Foram quatro dias preso. Prejuízo, por enquanto, imensurável. Na madrugada de sábado, ao deixar o batalhão da Polícia Militar onde estava recolhido, disse que vai retomar a campanha ao Senado. E saiu atirando em Tony Garcia, delator que entregou o esquema das estradas rurais, que levou essa turma toda para a prisão. Quanta coragem.
Nesses mesmos dias, o juiz Fernando Fischer, que acatou os pedidos de prisão, virou herói. As informações são de provas robustas. As gravações, muitas delas apresentadas a você, aqui mesmo na Tribuna, são avassaladoras. Indícios claros e provas contundentes de atentados ao erário. Mas Gilmar Mendes, o impoluto ministro do Supremo Tribunal Federal, entendeu o contrário. Aliás, nem entendeu, pois proferiu decisão liminar.
Gilmar acatou Habeas Corpus impetrado pela defesa do casal Richa e estendeu os efeitos para todos os presos na investigação do Gaeco. Não contente, concedeu salvo-conduto , a fim de vetar qualquer nova prisão preventiva. Aliás, que minutos antes havia sido decretada pelo juiz de primeiro grau.
O Ministério Público já anunciou que irá recorrer. Para que a investigação avance é necessário derrubar a decisão no STF. E parece claro que isso é obrigatório, pois a fundamentação dos pedidos de prisão evidenciou que os envolvidos estavam atuando para esconder provas e obstruir a justiça.
Beto sabia que tudo estava prestes a explodir. Tanto que decidiu apenas nos últimos momentos abrir mão do mandato de governador. Dispensou a prerrogativa de foro especial por alguns meses, imaginando que não seria pego em primeira instância antes de se eleger senador.
Futuro
Politicamente há pouco a fazer. Sua candidatura atual está completamente prejudicada. 24 anos de vida pública desmoronaram. Segundo a investigação do Ministério Público, R$ 70 milhões de verba pública movimentados irregularmente.
Há, ainda em curso, sérias investigações sobre desvios em licitações feitas para reformas de escolas. Também sobre esquemas na receita estadual. Sem esquecer da corrente Lava Jato, que tem Richa e integrantes do seu time em lista negra e privilegiada.
Ele tem sim todo o direito de se defender. Ocupará, seguramente, todos os espaços que tiver direito. Mas será difícil, muito difícil, tirar a marca de batom do colarinho.