As preocupações de Lula

Em sete anos quase perfeitos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve alguns percalços. Primeiro, a desconfiança generalizada do mercado financeiro internacional. Depois, a crise do mensalão e as desventuras de seu operador-líder, o então ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu. Em seguida, os “aloprados” da campanha eleitoral de 2006. Mais tarde, a crise mundial. Agora, em sequência, a crise institucional do Senado, que teve a intervenção direta de Lula, e as acusações da ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira, contra a atual chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à presidência da República no ano que vem.

Mesmo em situações constrangedoras, como a dos petistas que arriscaram criar um escândalo na campanha do PSDB em 2006 e acabaram tirando a vitória de Lula no primeiro turno – colocando-o em um inoportuno segundo turno contra o tucano Geraldo Alckmin -, o presidente não viu sua popularidade ser arranhada de forma agressiva. Desta vez, no entanto, pelo que aponta a pesquisa encomendada pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT) junto ao Instituto Sensus e divulgada na terça-feira, o estrago foi um pouco maior.

A edição de quarta-feira de O Estado contou esta história: “A pesquisa CNT/Sensus divulgada ontem mostra que houve uma queda na avaliação positiva do governo e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, embora os índices se mantenham em patamares elevados. Para o diretor do Instituto Sensus, Ricardo Guedes, a queda no desempenho do presidente foi influenciado por três variáveis: a crítica da população ao combate à gripe suína, à guerra de versões no caso da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e da ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira, e à crise envolvendo o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), embora a pesquisa não faça nenhuma pergunta específica sobre Sarney. A aprovação ao governo caiu de 69,8%, em maio, quando foi realizada a última pesquisa, para 65,4%, agora em setembro. No mesmo período, a avaliação positiva do presidente oscilou de 81,5% para 76,8%. Já o índice de desaprovação subiu de 15,7% para 18,7%. Em maio, a avaliação positiva do governo Lula crescera 7,4 pontos percentuais, após uma queda de 10 pontos em março”.

É claro que Lula é popular, continua sendo, e já pode ser considerado o político mais popular da história da República. Seus números de aprovação são tão expressivos que uma queda de cinco pontos percentuais, como a apontada na pesquisa CNT/Sensus, tem duas interpretações: a primeira é que alguma coisa aconteceu para uma alteração sensível; a segunda é que nem assim Lula perde a pose. E nem deveria.

Mas as preocupações de Lula aumentam, sem dúvida. Primeiro pelo desastre popular que foi a tomada de posição a favor de Sarney. A sociedade não aguenta mais a falta de compromisso público dos senadores, e a ação presidencial que abateu os planos de investigação contra o comandante do Senado Federal não caiu bem, nem mesmo entre os governistas – basta lembrar a insólita aparição do senador Eduardo Suplicy (PT-SP) dando um cartão vermelho para Sarney, provocando novo bate-boca na Câmara Alta.

Sobre Dilma, a expectativa de um crescimento dependerá do sucesso do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e de resultados imediatos -o que é difícil da exploração de petróleo na camada pré-sal. Ela ficou um pouco mais distante do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), reflexo da troca de acusações com Lina Vieira. Para subir de novo nas pesquisas, e para se mostrar uma candidata que realmente pode emplacar, Dilma terá que “colar” em Lula, e Lula terá que “colar” em Dilma o cartaz de única sucessora capaz de manter o Brasil no rumo que o presidente – tão popular que é – decidiu para a população que ainda lhe dá expressivos e consagradores níveis de aprovação.

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