“As praias desertas continuam / Esperando por nós dois / A este encontro eu não devo faltar…”. O trecho inicial da canção As praias desertas, desconhecido tema de Tom Jobim, versa sobre um encontro amoroso à beira do mar, numa daquelas praias escondidas do Rio de Janeiro dos anos 50s. É aquela paisagem idílica, coisa de cinema, fotografia antiga ou da recordação de quem viveu aquele tempo.

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Era um período em que muitos sonhavam com praias desertas. Ainda há quem pretenda passar dias sossegados em locais ermos. Mas até mesmo os locais mais afastados, como o arquipélago de Fernando de Noronha, tem estrutura aceitável para os turistas. Onde não há, na cidade mais próxima há de tudo.

Aqui, no Paraná, entretanto, não há estrutura aceitável para o tamanho dos balneários e para o número de visitantes que passa no litoral do Estado sua alta temporada de verão. Há, claro, estrutura comercial – ninguém passa necessidade por falta de comida ou bebida. Mas faltam coisas básicas, detalhes fundamentais que envergonham a população.

O retrato do litoral paranaense foi dado na edição de domingo de O Estado, em matéria assinada pelo repórter Leonardo Coleto: “A exemplo da temporada passada, a coleta de lixo, má conservação dos calçadões, qualidade da água das praias e até mesmo questões básicas de infraestrutura são os pontos mais reclamados por moradores e veranistas. (…) “Nosso litoral está bastante precário. Conheço muita gente que deixou de frequentar o Paraná e partiu rumo às praias de Santa Catarina, por exemplo. No Paraná parece que estamos abandonados. As mudanças acontecem apenas durante a temporada, fora disso ficamos sempre largados’, afirma o comerciante Durval Ferreira”.

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As declarações de Durval Ferreira (homônimo de grande compositor e guitarrista, recentemente falecido – só para não perder outra associação musical) são fortes e corretas. Você já ouviu falar em política de turismo no Paraná? Alguém pode responder: “Ah, mas e Foz do Iguaçu?”. Não esqueçamos que a cidade da Tríplice Fronteira tem atrativos naturais tão espetaculares que não seria necessário montar um projeto para a região (e mesmo assim os empresários locais se esforçam para receber cada vez mais visitantes).

Mas, enquanto a região oeste recebe grande fluxo de turistas, no litoral as coisas são cada vez piores. Tudo por falta de uma política governamental. Não adianta o trabalho individual dos prefeitos, uma iniciativa vinda de um município (Matinhos, Paranaguá, Pontal do Paraná, Guaratuba, Antonina, Morretes ou Guaraqueçaba). É necessário algo maior, mais organizado, com respaldo público e com forte investimento publicitário.

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Claro que a publicidade seria o último passo desta história. Primeiro, é preciso dotar nosso litoral de uma mínima estrutura básica – saneamento básico, coleta de lixo, qualidade da água nas praias, atenção à saúde. Depois, atacar os problemas das áreas urbanas, evitando que regiões mais movimentadas tenham problemas de calçamento. É simples: onde a natureza está intocada, que continue assim e que se tenha cuidado; onde há intervenção, onde há prédios, casas e centros comerciais, que se administre como se administra uma cidade qualquer, seja no litoral ou no interior.

Para atingirmos este ponto, é imperiosa a ação do governo estadual. Sem ele, não há condições de investimento para as cidades. E, imagina-se, é de interesse do poder central que todas as regiões do Paraná estejam bem. No caso do litoral, tão bem que possam atrair turistas de outros estados, e não o que vem acontecendo, que é a debandada de paranaenses para Santa Catarina em dezembro e janeiro. Se não agirmos, os balneários do Paraná virarão, na pior definição, praias desertas que esperam por turistas que nunca aparecem.