Alvaro não desiste

Correndo normalmente o rio da política paranaense, teremos o prefeito de Curitiba, Beto Richa, como candidato do PSDB ao governo do Paraná. Ele deverá ter como rivais na eleição de 3 de outubro de 2010 o senador Osmar Dias (PDT), o vice-governador Orlando Pessuti (PMDB) e outros candidatos nanicos. É este o caminho natural, apesar de todas as conversas e idas e vindas nos bastidores.

Mas não é o que pensam o governador Roberto Requião (PMDB) e o senador Alvaro Dias (PSDB), duas peças importantes no quebra-cabeça da sucessão. Distantes nos últimos anos, concorrentes no pleito de 2002, quando Requião conquistou seu segundo mandato (ele está entrando no último ano do terceiro, sendo o político paranaense com mais tempo de governo estadual no período da retomada democrática), eles estão se reaproximando. De forma surpreendente e até ostensiva, inclusive com a participação de Alvaro em programas da TV Paraná Educativa, onde – como se sabe – só entra quem é “abençoado” pelo governador. Nesta semana, em Foz do Iguaçu, diversos eventos oficiais acontecem às custas do erário. Em um deles, Alvaro Dias surgiu sorridente ao lado de Requião e Orlando Pessuti.

A repórter Elizabete Castro contou esta história na edição de ontem de O Estado: “A participação do senador Alvaro Dias (PSDB) na abertura do “Programa de Estudos Avançados para Líderes Públicos’, em Foz do Iguaçu, anteontem à noite, a convite do governador Roberto Requião (PMDB), foi interpretada por alguns setores do PMDB como um sinal de que ainda há um canal para uma aliança com os tucanos no Paraná. Depois das declarações de Requião, terça-feira, em Brasília, descartando categoricamente uma aproximação eleitoral com o prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB), a aparição do senador tucano ao lado do governador mostrou que Alvaro pode obter o que o prefeito tem dificuldades de alcançar: o apoio de Requião. Alvaro não apenas compareceu ao evento, como também teve a oportunidade de discursar e até mencionou a pré-candidatura de Requião à presidência da República”.

Como lembrou a repórter, Requião afirmou durante a semana, em sua catastrófica tentativa de lançamento de pré-candidatura à presidência da República, que não vê possibilidade de engrossar um palanque com Osmar Dias e o PT juntos, e que também não quer apoiar Beto Richa, numa composição entre peemedebistas e tucanos. Dependendo dos desejos do governador, o acordo com o PSDB passa pelo nome de Alvaro como candidato ao governo e pelo dele como candidato à senador – real interesse de Requião na eleição do ano que vem.

Como se sabe, ao governador pouco interessa se A ou B serão candidatos. O que ele precisa é de uma composição relativamente forte para confirmar seu favoritismo na corrida para o Senado. Se possível, também facilitar a vida de seu sobrinho querido, João Arruda, candidato à deputado federal. No momento, a aliança mais interessante para ele é com o PSDB, que surge como favorito nas eleições majoritárias (para presidente, com o governador de São Paulo José Serra ou com o governador de Minas Gerais Aécio Neves, e para governador, com Beto ou com Alvaro). Mas a união com Beto é rechaçada pelos áulicos do governador, que acabam concordando com boa parte do PSDB, que quer a união com o PMDB, mas quer excluir Requião deste grupo.

Resta Alvaro Dias. E o senador sabe que esta possibilidade para ele é a única, pois ele precisa convencer os aliados locais e a executiva nacional que pode montar uma aliança coesa com os peemedebistas. Sem desistir, Alvaro corre contra o tempo, e não se incomoda em parecer um aliado de primeira hora de Requião – mesmo que isso “queime seu filme” com muitos eleitores.