Agressão na Itália

O domingo foi marcado por um ato surpreendente. Um cidadão atirou um pedaço de ferro (uma miniatura, segundo a imprensa) no primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi. Informou o jornal O Estado de S. Paulo: “Um homem jogou uma miniatura de ferro no rosto do premiê, que ficou com a boca e o nariz sangrando, olhando para as câmeras com um ar atordoado. O agressor, identificado como Massimo Tartaglia, de 42 anos, foi imediatamente detido pela polícia. Tartaglia não tem antecedentes criminais. Inicialmente, a polícia informou que o agressor havia dado um soco forte em Berlusconi, mas as imagens da agressão mostraram que, na verdade, ele se aproximou bastante e jogou a miniatura da catedral medieval de Milão contra o rosto do premiê. O boletim médico indica que o premiê sofreu uma “pequena fratura’ no nariz e teve dois dentes quebrados, além de sofrer lesões nos lábios, disse Paolo Klun, porta-voz do Hospital San Raffaele de Milão. Klun disse que Berlusconi ficou “muito abalado e desmoralizado’ com a agressão. “Ele não entendeu muito bem o que aconteceu”, disse o porta-voz do San Raffaele. Berlusconi, além de primeiro-ministro, é um dos dois homens mais ricos da Itália. Magnata da mídia, ele controla empresas como emissoras de televisão, jornais, revistas e uma editora, além de investimentos em outros ramos da economia através do seu grupo Fininvest. Durante este ano inteiro, o premiê se envolveu numa série de escândalos sexuais com prostitutas, se separou da segunda esposa e sua suposta ligação com organizações criminosas foi levantada por um mafioso arrependido num julgamento”.

Além do acontecimento, o jornal relatou o péssimo ano de Berlusconi – o ano em que seu ar de conservador e moralista foi por água abaixo. Suas relações extraconjugais rodaram o mundo, e suas fotos nu ao lado de prostitutas tiveram o poder de destroçar sua credibilidade. Hoje, o premiê italiano não tem moral para ser considerado “estadista”, e seus colegas do resto do mundo o tratam normalmente em encontros internacionais, mas não escondem a vontade de ficar longe do polêmico líder italiano nas fotos oficiais. Será assim em todos os eventos que ele participar a partir de agora.

Para completar, Berlusconi leva uma miniatura da catedral de Milão na cara, quebra dois dentes e o nariz. É o final de ano mais indesejável para o milionário primeiro-ministro – mas, convenhamos, condizente com tudo que ele passou em 2009.

O que não pode acontecer é a comemoração de um ato criminoso. Correntes de críticos por todo o mundo festejam o fato como um “ataque à extrema direita”, como se Berlusconi tivesse que ser assassinado por representar e agir de modo contrário à filosofia esquerdista. Por mais que não se aceite o estilo e a política do primeiro-ministro da Itália (e é nítida a incapacidade dele em resolver os problemas de seu país), ele foi eleito e é o chefe de governo legitimado pela Constituição local. Não pode ser atacado por quem quer que seja.

É só trazermos a situação para o Brasil. Imaginemos que, em um passeio por alguma cidade brasileira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja atingido por um pedaço de ferro atirado por um maluco. O presidente da República ficaria ferido, e o País consternado. O agressor seria preso. E todos diriam, com razão, que foi um ato condenável, que o chefe do Podre Executivo não pode estar sujeito. Alguns defenderiam que o tal maluco fosse para a prisão imediatamente, sem julgamento, e ficasse lá o resto da vida.

Por mais que não gostemos dos atos e da empáfia de Silvio Berlusconi, não há como concordar com a agressão pura e simples. Os italianos têm uma arma muito mais poderosa para ser usada contra seu líder – o voto, que se usado com inteligência, tirará o premiê do cargo e dará ao país uma liderança política de mais qualidade. Seja de direita, seja de esquerda.