Aécio abre caminho

Pode-se dizer que foi surpreendente. Ontem, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), anunciou oficialmente seu afastamento da corrida presidencial. Até agora pré-candidato, e sugerindo a realização de prévias em seu partido, ele acabou tomando o caminho contrário e abriu espaço para a consagração do nome do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), como o candidato dos tucanos para a eleição presidencial de 3 de outubro de 2010.

Aécio não falou muito. Basicamente, reproduziu em pronunciamento as palavras que escreveu na carta ao presidente do partido, senador Sérgio Guerra (PE): “Sempre tive consciência de que uma construção com essa dimensão e complexidade não poderia ser realizada às vésperas das eleições. Quando, em 28 de outubro, sinalizei o final do ano como último prazo para algumas decisões, simplesmente constatava que, a partir deste momento, o quadro eleitoral estaria começando a avançar em um ritmo e direção próprios, e a minha participação não poderia mais colaborar para a ampla convergência que buscava construir. (…) Deixo, a partir deste momento, a condição de pré-candidato do PSDB à presidência da República, mas não abandono minhas convicções e minha disposição para colaborar, com meu esforço e minha lealdade, para a construção das bandeiras da social democracia brasileira”.

A atitude de Aécio Neves tem duas leituras, que podem se confirmar ou não nas próximas semanas. A primeira é a possibilidade de o governador mineiro ter percebido que não teria o apoio decisivo das bases do PSDB para cacifar sua pré-candidatura e garantir a realização das prévias. Assim, recuaria e preferiria partir para uma definida eleição para o Senado (ele é favoritíssimo, até pela aprovação maciça que tem em seu Estado e, também, pela ausência de outros candidatos fortes).

A segunda é uma possível pressão que a cúpula tucana fez sobre o governador mineiro, incluindo também a especulação que se faz desde a eleição de 2006 – que, em 2010, Serra seria o candidato, talvez com Aécio como seu vice, e eleito o hoje governador paulista criaria uma emenda constitucional acabando com a reeleição e fazendo, imediatamente, o neto de Tancredo Neves como candidato para o pleito de 2014.

De qualquer forma, é importante saber como Aécio Neves vai agir a partir de agora. Na formalidade das cartas, ele se coloca como “soldado do partido”, aquela associação que sempre se faz em momentos como esse. Mas certamente ele não sai satisfeito desta história, pois vive o auge da carreira política e tinha potencial para fazer uma campanha boa – apesar de estar na rabeira das pesquisas de intenção de voto; que, em contrapartida, apresentam Serra sempre na liderança.

Se o governador de Minas realmente se engajar na campanha de José Serra, o governador de São Paulo e o projeto tucano de poder ganha força. Uma vitória no segundo maior colégio eleitoral do País é importantíssima para manter a vantagem do PSDB sobre a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que será a candidata do PT – e, por ter o apoio empolgado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, certamente vencerá no norte e no nordeste (além do Rio Grande do Sul, notadamente de posição esquerdista, ainda mais com uma gaúcha concorrendo à presidência).

Mas se Aécio Neves se recolher para as montanhas e se preocupar apenas com Minas Gerais, a união anunciada no pronunciamento de ontem pode virar pó, facilitando a vida de Dilma e transformando Ciro Gomes (PSB) em fiel da balança na eleição do ano que vem. Fora da disputa, o governador mineiro pode ser mais importante para o PSDB do que como pré-candidato à presidência da República.