Achatada está a paciência do povo, nobre deputado

Ecoou Brasil afora o infeliz pronunciamento do deputado estadual Luiz Carlos Martins, reclamando do “parco” salário de R$ 25,3 mil reais. Segundo ele o valor, que não sofre reajuste há quatro anos, está achatado. Será que o nobre e já experiente parlamentar, do alto do seu oitavo mandato, não imagina o quão achatados estão os cidadãos que nele votaram?

O bordão fácil e ligeiro, de profundo caráter social, que ele repete à exaustão todas as manhãs na sua rádio, sempre serviu pra conquistar eleitores, mas não combina com a realidade dos fatos.

Mas centrar a crítica apenas em Martins é injustiça tremenda, apesar do mau exemplo. O discurso inapropriado revela aquilo que nossa classe política pensa e cantarola nos bastidores. Os exemplos de uso do dinheiro público, sempre com parrudo discurso de pleno exercício da atividade parlamentar, são os piores possíveis.

Excelente matéria publicada na Gazeta do Povo, sexta passada, depois da presepada de Luiz Carlos Martins, revelou que nossos deputados estaduais já torraram R$ 7,7 milhões em verbas de gabinete em 2019. Isso até julho. Só com locação de veículos e combustíveis foram R$ 2,7 milhões.

O parlamentar reclamão acha que o salário está baixo, mas esqueceu de contar pro povo, no mesmo microfone que captou suas lamúrias, que ainda tem à disposição R$ 31,4 mil, todo mês, pra pedir na forma de ressarcimento por despesas do mandato. Com a vantagem de poder acumular pro mês seguinte, caso não gaste tudo no período corrente.

Além disso, cada deputado ainda administra uma verba de R$ 96,5 mil mensais pra contratar funcionários. Podem ser até 23. A conta final para os cofres públicos é grande. Por isso, ouvir pataquadas desse naipe doem tanto nos ouvidos dos cidadãos de bem.

Exemplo

Boa leitura, pra eleitores e eleitos aqui na terrinha, é o livro da jornalista Claudia Wallin. Em “Um país sem excelências e mordomias”, (Geração Editorial, 336 págs.), ela analisa como os políticos suecos “funcionam”.

Já na capa, registra: “Na Suécia, os políticos ganham pouco, andam de ônibus e bicicleta, cozinham sua comida, lavam e passam suas roupas e são tratados como você. No Brasil…”. Segundo ela, na concepção sueca, sistemas que concedem privilégios e regalias aos políticos são perigosos.

Que tal implantar esse sistema por aqui?

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