A vitória do medo

Sábado foi um dia trágico para o Rio de Janeiro. E, por consequência, para o Brasil. Sim, porque ainda temos no Rio a nossa grande porta de entrada, a “Cidade Maravilhosa, cheia de encantos mil, coração do meu Brasil”. E por ser uma das antigas capitais do País, também é referência política e econômica. Então, o que acontece lá atinge em cheio a todos nós.

Ainda mais como os fatos acontecidos no último sábado, com desenvolvimento no dia seguinte. O melhor resumo veio no despacho da Agência Globo, que está nas páginas da edição de domingo de O Estado: “Doze pessoas morreram – sendo dez bandidos e dois policiais – durante um intenso tiroteio no Morro dos Macacos, que começou na madrugada, estendeu-se por toda a manhã deste sábado e continua causando pânico em moradores de Vila Isabel, do Grajaú e de outros bairros próximos. (…) Segundo a Polícia Militar, o confronto foi entre traficantes de quadrilhas rivais. A troca de tiros começou quando bandidos do Morro do São João, no Engenho Novo, invadiram o Morro dos Macacos, por volta de 1h deste sábado. Três corpos foram encontrados dentro de um Peugeot preto, em um dos acessos à comunidade, e dois policiais morreram carbonizados na queda de um helicóptero da Polícia Militar, que foi derrubado por tiros disparados por traficantes. O helicóptero foi atingido na hélice e caiu pegando fogo dentro da Vila Olímpica, que fica na Avenida Marechal Rondon, próximo ao Túnel Noel Rosa, que dá acesso ao Morro dos Macacos. Após a queda, a aeronave explodiu”.

Os acontecimentos do sábado, e algumas de suas explicações, são aterradores. O fato de um grupo de marginais ter armas capazes de derrubar um helicóptero (o que só não aconteceu por perícia do piloto da Polícia Militar) é assustador. Ao mesmo tempo, segue a triste sina de comunidades carentes reféns dos traficantes – e, por conta de ações oficiais, aumentou a luta entre quadrilhas rivais pelo domínio de determinadas regiões. Mais terrível ainda é saber que, mesmo lutando pelo controle do crime organizado, as facções se unem para desafiar o poder público – no trágico dia, bandidos de vários morros foram ao Morro dos Macacos para promover o terror.

Foi mais uma vitória do medo. E uma cena, captada pela TV Globo, expõe a realidade de quem é cidadão da capital mais bonita do Brasil. Ao ver a câmera, um passageiro de um ônibus (que teve o itinerário alterado para evitar as trocas de tiros entre bandidos e policiais) sai à janela e grita desesperadamente: “Eu só quero paz! É só isso. A gente precisa de paz”. E quem oferecerá isso a ele?

São situações que colocam dúvidas na capacidade brasileira de manter a ordem em eventos de porte como a Copa do Mundo de 2014 (que terá a sua decisão no Rio de Janeiro), e os Jogos Olímpicos de 2016, que têm a capital fluminense como sede. Como afirmou o governador daquele estado Sérgio Cabral (PMDB), o mundo espera que a “Cidade Maravilhosa” solucione os problemas da violência urbana antes, durante e depois da Olimpíada. Não se pode imaginar que acontecerá algo como na Conferência das Nacões Unidas sobre o Meio Ambiente, a Eco-92 – àquela oportunidade, houve um acordo tácito entre autoridades e bandidos para que nada acontecesse -, ou como na famosa gravação do clip de Michael Jackson na favela da Rocinha – quando houve algo semelhante entre os produtores do cantor e os traficantes.

É preciso ação forte e rigorosa contra os marginais. Acabar com o império do tráfico, que transformou o Rio de Janeiro em um palco de guerra civil. Promover cidadania nas comunidades carentes, criando oportunidades para que os jovens fujam da marginalidade. E investir não só em grandes palcos esportivos olímpicos, mas também na saúde e na educação de um povo que passa por privações difíceis de serem definidas.